Eu já fui inumeras vezes questionado pelo meu sentimento sincero de amor incondicional à minha cidade, dessa saudade que relato consumir meus dias e noites.... Dessa aparente ausência de lógica...em sair de um lugar pacato ( também aparentemente ) como o que vivo, para voltar as entranhas da megalópole que outrora me deu minha essência, minha alma, o que sou....
São os incontáveis os meus motivos, poderia começar pela simples vontade de conviver com meus pais, com quem não convivo há onze anos, minha avó... que fará 80 anos, meus amigos... meu irmão....
Mas vai além, vai além de toda superfície emotiva de quem nasce e é criado numa determinada localidade, eu e o Rio, sinto como se fosse uma relação de simbiose, estou empreguinado de Rio de Janeiro até a alma... amo a atmosfera, simplesmente por ser ímpar, amo seu estilo, seu charme, e sou apaixonado pela polemica e ódio que a cidade causa.... Amo seu mar ( ainda que eu nade tanto como uma pedra ), amo o jeito despreocupado com que a cidade vive seu dia a dia, sem lamentos, sangrando calada, lhe dando com seus próprios problemas, sem se intrometer na vida alheia, cuida da sua hemorragia que a cada dia rouba mais da sua beleza para os que ali vivem, porém não restringe em nada seu resplendor perante o mundo... sua imponência, na simplicidade consistida em unir a criação divina com o que o homem semeou entre mares e rochas...
Sinto sim, os olhos enchem d'água, a alma se apreende o corpo se arrepia ao vê-la ainda que de longe, inevitável imaginar meus filhos brincando aonde eu brincava, estudando aonde eu estudei, tendo o mesmo senso de esperteza e perigo que nós cariocas desenvolvemos naturalmente...aquele "termostato" natural para problemas e confusões. Mas não sou louco....
sei que uma decisão dessa pesaria sobre o futuro deles para sempre. Sei que me agradeceriam demais isso na adolescencia, mas uma coisinha errada, e tudo vai pelos ares, seria eu o errado a empurrar goela abaixo dos três, o meu sonho da vida toda. Então, pela razão... ainda estou longe... sofrendo calado, e sem passar um dia sequer sem imaginar, sem desejar essa volta,
Toda vez, que do ónibus, descendo a serra avisto as luzes da minha cidade, sorrindo para mim, me abrindo os braços, é como se minha mãe me dissesse : " Filho, que bom que voltou para casa !" Rio, meu eterno e maior sonho é ter você de volta e vivermos juntos. Te amo!