Curiosamente, o antidoto provisório e desesperado que se
encontrou foi o isolamento.... Logo esse.... Tão comum na era moderna...O
praticamos com tamanha destreza, tamanha sagacidade que nem sentimos culpa por isso…vivemos
em caixas de entretenimento que variam as polegadas e definições, mas não nos
conectam a corpos como antes.... Nos deram a difícil missão de fazermos aquilo
que somos especialistas em fazer, como ferramenta para evitar nossas mortes....
Ficar em isolamento. Não ver mais nossos pais, avós, amigos, alguns até ficam
longe do stress do trabalho físico. Mas, isso pode, ainda que como novidade
para muitos, ser extremamente danoso às mentes, à alma, e sobretudo, aos
corações.
Falo com o sentimento de quem, talvez, seja especialista, em
afastar pessoas. Eu sou assim, tenho essa acidez rotulada em mim, não consigo
mais, em nenhuma circunstância ser a mesma pessoa que antes abraçava e
angariava amigos. As derrotas e
decepções podem sim, amargurar um coração ao ponto de quase torna-lo incapaz de
enxergar além daqueles que estão ao seu lado, e creio, que isso pode ter sido o
que se deu comigo. Tenho visto tanta gente refletindo de fato, sobre esse
afastamento, sobre, como não se vive mais em comunidade, com a saudade de
magnitude colossal, porque, de fato, há muito tempo, não vemos o outro.... Não
sabemos que está ali... É da natureza humana se redescobrir em momentos como
esse, se fazer cooperativo, solidário, irmão. É notório que sob essa condição
somos mais capazes de romper as barreiras de gêneros, religiões, classes
sociais.... Nos tornamos quase unidade, se colocar no lugar do outro...
Em contrapartida, há o estado de contágio verdadeiro: o
envenenamento político. Num momento delicado
para o mundo, vemos algumas pessoas quase chegando as vias de fato por
defenderem lados opostos politicamente falando. Dia a dia, crescem os
contagiados pelo ódio, e pela ingênua sensação de que ter a razão irá trazer
algum conforto, algum alívio. Milhões deixam famílias órfãs com proporções de
confrontos armados ao mesmo tempo em que alguns acreditam se tratar de um jogo
de xadrez, movendo peças, ganhando terreno.... Não poderemos nos recuperar de
tudo isso, se não encaramos as coisas, como elas são. O mundo a qual
conhecemos, os sonhos, os planos que tínhamos na virada do ano passado para
esse ano, mudaram, tudo foi alterado.... Adiado, ou perdido. Casamentos que
tinham sido planejados por anos, formaturas que eram sonhadas semestre a
semestre, aulas que foram interrompidas, viagens canceladas, empregos perdidos,
salários fracionados, fome e dor potencializadas. A cada boletim diário, um
número assustador... Vidas perdidas, lágrimas, dor. E muitos se queixando de
não ter mais paciência de esperar tudo passar.... É algo mundial, mas que afeta
cada país com a realidade em que vive. Nosso sistema de saúde sempre foi precário,
e nosso país é geograficamente vasto.... Somado ao fato de termos abismos sociais
tão profundos que se estendem desde o descobrimento, nos torna alvo fácil nessa
pandemia. Não podemos sob nenhum aspecto, dar importância a qualquer que seja o
lado, pois, esse lado não existe. Não aqui.... Não hoje, não agora.... Não sob
essas circunstâncias. O que existe, é o que vai ser feito, e o que vai
acontecer, seja lá o que for... Seremos nós que arcaremos com tudo. Tudo. Se
vivermos que esse traço esquecido de humanidade que temos resgatado seja de
fato a cura. Senão para o vírus, para nossa vida. Para que tenhamos menos
corações amargos. Menos rótulos, menos distância entre nós. Temos que tirar ao
menos essa lição, de que todo o trabalho de quem está se arriscando para que
fiquemos a salvo não seja em vão.... Para que tamanho distanciamento não se
eternize em nossas almas.
Portanto, a resposta para aqueles que se perguntam aonde
está Deus no meio dessa pandemia, praga, peste, o nome que se dê ao que
vivemos, continua sendo o amor. Não pelo que vemos no espelho, mas pelo que
vemos à nossa frente, ao nosso lado.... No outro lado do muro, no outro lado da
cerca, da cidade, do estado, do país do mundo. O amor pelo próximo, a genuína
vontade de que ele sobreviva, que se cure, que não sinta fome, nem frio, que
não se desempregue, que não morra. A bandeira do nosso Senhor: O amor à vida.
Em estado pleno.
Cuidem-se meus irmãos.
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