domingo, 5 de maio de 2013

A porta entre aberta



Todas as noites, antes de irmos para a cama, é de costume verificar a casa, se todas as janelas estão lacradas e a porta da casa bem trancada. Qualquer fresta de janela aberta ou qualquer esquecimento de uma porta entreaberta pode custar caro... E não falo somente do vento cortante da noite que invade o quarto, sopra forte quase intimidativo sacudindo a cortina... Muito embora contrarie a lógica, além da possibilidade de alguém entrar, existe também a possibilidade de alguém sair.
Assim também funciona o amor. O amor, como diria Alexandre Carlo, é de vidro. Ao cair se quebra em pedaços tão desiguais que jamais se cola. O amor se arranha de uma maneira tão profunda que nenhum tipo de polimento repara. E por falar em polimento, o amor não é ferramenta de polir o ego! Não é o diamante do anel, o pingente do cordão... O amor não pode se resumir à ostentação, é genuíno e único demais para ser exposto numa sala de troféus ou posto em uma redoma de vidro.  Muitas pessoas gostam de exibir o amor de outras por si somente para alimentar a vaidade, outras seguras demais de seus atos... Julgam tudo eterno e irretocável. Omitem-se... Se acomodam...
Perdoem-me o modismo, mas tenho que soltar essa: “Só que não!” O amor não é bibelô, tampouco um sorriso no porta retratos, é mais... É orgânico, é crescente e, muito embora, realmente tenha raízes, precisa ser cuidado, ser regado! Por isso, muita gente perde seus amores, por não cuidar, o amor e a devoção são distintos! O pior erro que pode se cometer é confundir os dois, se acreditar por apenas um segundo que a pessoa que ama você, lhe deve devoção... Essa pretensão sairá  pela culatra!
Anos de amor que se dá em uma proporção desigual, dilapida... Corrói qualquer sentimento, até restar somente... Gratidão, amizade. Não podemos nos julgar acima das ameaças ao nosso amor, confiar em si é bom, porém inovar e investir no amor entre os dois é a chave que tranca essa porta, pois basta uma fresta... Basta à porta estar entreaberta para se ver outros horizontes, e só quem detém uma carência afetiva monstruosa sabe o quanto é libertador ver essa luz de novo... Renasce! Liberta! Reluz!
A relação do amor e confiança é uma linha tênue entre o ego e o sincero. O ego te diz sempre que estás sempre em primeiro lugar no coração do outro, por isso não importa quantos olhares se lancem sobre seu amor, o amor dele por você prevalecerá, não importa quantos desejos o tentem, ignora completamente a possibilidade de algum dia entre por esta fresta um novo amor, outra luz, outras cores. Nada ameaçará a devoção! Já a sinceridade te aponta os erros seus te lança desafios, te faz inovar... Querer manter o amor, pelo amor e não só pela corda puída que esta suposta devoção o segura. É ler o que o outro deseja, e mesmo que não seja a tua preferencia, conceda! Relacionamentos SÉRIOS são construídos sobre a concessão talvez doar-se seja mais trabalhoso do que confiar no próprio “taco”... Mas é necessário!
Daí o que era para ser tranquilo vira uma aposta. Todos os dias você aposta seu amor com a vida acreditando piamente que nada lhe tomará o seu artefato de luxo, seu mimo, seu prêmio! Ignora completamente que o amor evolui, mas também retrocede, e que para os olhos que ficaram vendados por muito tempo, uma nova luz pode libertar não somente o coração, mas a alma! Prendemo-nos em frases máximas que ninguém assume a autoria como: “Quem ama confia”... “Quem ama não trai”... Mas isso não é a lei da vida! É hipocrisia acharmos que essa é a lei que impera no mundo. Quem ama, ama de verdade, faz algo pelo seu amor, cuida dele, lança sobre ele, ainda que timidamente algum tipo de resposta, corresponde...
Somos frágeis desde sempre, e como tal, carentes de esperança... Quando não correspondidos, muitos não aguentam... Caem em pedaços, já outros, os mais fortes, expandem a visão  e é neste momento que tudo pode mudar, os rumos, os horizontes, os amores. Regue seu amor para que continue feliz ao seu lado, ou creia que sendo você a pessoa mais amada por ele jamais a vida o arrancará de você... E ao invés de colher cumplicidade, sorriso, afeto, colherá a culpa de não ter enxergado que a porta estava entreaberta, o suficiente para um feixe de luz entrar... Daí entra em cena uma das tristes leis da vida : Só nos damos conta do valor do que perdemos quando nos desfazemos fácil ou tolamente dele.