Todas as noites, antes de irmos para a cama, é de costume
verificar a casa, se todas as janelas estão lacradas e a porta da casa bem
trancada. Qualquer fresta de janela aberta ou qualquer esquecimento de uma
porta entreaberta pode custar caro... E não falo somente do vento cortante da
noite que invade o quarto, sopra forte quase intimidativo sacudindo a
cortina... Muito embora contrarie a lógica, além da possibilidade de alguém entrar,
existe também a possibilidade de alguém sair.
Assim também funciona o amor. O amor, como diria Alexandre
Carlo, é de vidro. Ao cair se quebra em pedaços tão desiguais que jamais se
cola. O amor se arranha de uma maneira tão profunda que nenhum tipo de
polimento repara. E por falar em polimento, o amor não é ferramenta de polir o
ego! Não é o diamante do anel, o pingente do cordão... O amor não pode se
resumir à ostentação, é genuíno e único demais para ser exposto numa sala de
troféus ou posto em uma redoma de vidro. Muitas pessoas gostam de exibir o amor de
outras por si somente para alimentar a vaidade, outras seguras demais de seus atos...
Julgam tudo eterno e irretocável. Omitem-se... Se acomodam...
Perdoem-me o modismo, mas tenho que soltar essa: “Só que
não!” O amor não é bibelô, tampouco um sorriso no porta retratos, é mais... É
orgânico, é crescente e, muito embora, realmente tenha raízes, precisa ser
cuidado, ser regado! Por isso, muita gente perde seus amores, por não cuidar, o
amor e a devoção são distintos! O pior erro que pode se cometer é confundir os
dois, se acreditar por apenas um segundo que a pessoa que ama você, lhe deve devoção...
Essa pretensão sairá pela culatra!
Anos de amor que se dá em uma proporção desigual, dilapida...
Corrói qualquer sentimento, até restar somente... Gratidão, amizade. Não
podemos nos julgar acima das ameaças ao nosso amor, confiar em si é bom, porém
inovar e investir no amor entre os dois é a chave que tranca essa porta, pois
basta uma fresta... Basta à porta estar entreaberta para se ver outros
horizontes, e só quem detém uma carência afetiva monstruosa sabe o quanto é
libertador ver essa luz de novo... Renasce! Liberta! Reluz!
A relação do amor e confiança é uma linha tênue entre o ego
e o sincero. O ego te diz sempre que estás sempre em primeiro lugar no coração
do outro, por isso não importa quantos olhares se lancem sobre seu amor, o amor
dele por você prevalecerá, não importa quantos desejos o tentem, ignora
completamente a possibilidade de algum dia entre por esta fresta um novo amor,
outra luz, outras cores. Nada ameaçará a devoção! Já a sinceridade te aponta os
erros seus te lança desafios, te faz inovar... Querer manter o amor, pelo amor
e não só pela corda puída que esta suposta devoção o segura. É ler o que o
outro deseja, e mesmo que não seja a tua preferencia, conceda! Relacionamentos
SÉRIOS são construídos sobre a concessão talvez doar-se seja mais trabalhoso do
que confiar no próprio “taco”... Mas é necessário!
Daí o que era para ser tranquilo vira uma aposta. Todos os
dias você aposta seu amor com a vida acreditando piamente que nada lhe tomará o
seu artefato de luxo, seu mimo, seu prêmio! Ignora completamente que o amor
evolui, mas também retrocede, e que para os olhos que ficaram vendados por
muito tempo, uma nova luz pode libertar não somente o coração, mas a alma! Prendemo-nos
em frases máximas que ninguém assume a autoria como: “Quem ama confia”... “Quem
ama não trai”... Mas isso não é a lei da vida! É hipocrisia acharmos que essa é
a lei que impera no mundo. Quem ama, ama de verdade, faz algo pelo seu amor,
cuida dele, lança sobre ele, ainda que timidamente algum tipo de resposta,
corresponde...
Somos frágeis desde sempre, e como tal, carentes de esperança...
Quando não correspondidos, muitos não aguentam... Caem em pedaços, já outros,
os mais fortes, expandem a visão e é
neste momento que tudo pode mudar, os rumos, os horizontes, os amores. Regue
seu amor para que continue feliz ao seu lado, ou creia que sendo você a pessoa
mais amada por ele jamais a vida o arrancará de você... E ao invés de colher
cumplicidade, sorriso, afeto, colherá a culpa de não ter enxergado que a porta
estava entreaberta, o suficiente para um feixe de luz entrar... Daí entra em
cena uma das tristes leis da vida : Só nos damos conta do valor do que perdemos
quando nos desfazemos fácil ou tolamente dele.