Tudo começa quando detectamos, ainda que superficialmente e
ocultado pela vontade de manter seus compromissos em dia, que há um mal estar,
uma atmosfera podre ao seu redor, algo fétido que torna sua rotina
desconfortável, mas como um atleta de fim de semana, ignoramos as dores e
seguimos em frente... Porém a cada semana que se termina, o alívio pelo fim de
semana chegando começa a ser superior que a paixão do brasileiro pelo feriado e
pelos Domingos...E, mesmo que não haja nada programado, mesmo que você seja o
mais caseiro dos seres, o Domingo é a luz no fim do túnel, o bálsamo...Ansiamos
por ele cada segundo da segunda à sexta. É seu corpo pedindo um descanso,
mínimo que seja.
Mas quando o Domingo à tarde, passa a trazer lágrimas...
Sofrimento, afinal, pra quem se encontra nesse estágio, o último raio e sol do
Domingo significa o primeiro raio de sol da segunda. Então, quando entramos no
transporte público para irmos trabalhar e rezamos para a viagem ser mais longa,
quando chegamos ao prédio onde trabalhamos, desejamos voltar imediatamente pra casa,
e chega a dar vontade de chorar só de olhar pra ele, sim, acende-se a luz
vermelha, não haverá felicidade mais ali, nada ali te fará bem. Quando o seu
trabalho se torna seu pior pesadelo, quando seus colegas de trabalho parecem
personagens de filme de suspense, aparentemente todos contra você, todos
querendo lhe arrancar a última gota de sangue...Seu trabalho se torna,
indiscutivelmente o seu desprazer, seu inimigo, seu pesadelo, rouba-lhe suas
noites de sono, e quando consegue dormir, se instala em seu subconsciente e te
traz pesadelos, com chefes, tarefas e cobranças eternas...E assim, sua mente
também pede um descanso, por mínimo que seja.
Um a um, seus sorrisos vão entrando em extinção na mesma
velocidade que suas responsabilidades e cobranças entram em propulsão no seu
trabalho, e começa-se a questionar se trabalhamos para viver, ou se vivemos
para trabalhar... Até onde é importante ter sua vida atrelada a esse tipo de
sofrimento incompreensível aos outros, mas que rouba-lhe tudo, até suas poucas
horas de descanso, até onde pode ser mais importante vender sua alma e seu
corpo a troco de prestações de sonhos.... Os pesadelos começam a pesar mais que
os sonhos, e cada vez menos nos importamos com o que o mundo dirá se um dia
você abdicar desse fardo. O vórtex começa a consumir tudo o que amam em você,
seus sorrisos, sua alegria, sua saúde.
Contudo, o que mais tortura é a indecisão sobre o próximo
passo... O que deve-se fazer? Dar fim a todo esse sofrimento e mergulhar rumo
ao desconhecido, sendo julgado pela maioria esmagadora como incapaz... Como
fraco... Como medroso? Ou suportar até que se perca a sanidade, e assim se
tornar mártir filosófico, por que somente assim saberão de fato que adoeceste
tentando manter seus compromissos, seu caráter, sua dignidade, tentando fazer
jus à oportunidade que na verdade é uma infinita perseguição, tentando fazer
jus à confiança, que na verdade nada mais é do que uma rotina de cobranças
intermináveis, tentando alcançar o inalcançável status de satisfação a todos,
fazendo todos à sua volta felizes. E te fazendo desistir da sua, almejando
apenas o descanso, a paz. Sentar-se a margem de sua vida e ficar assistindo
esse vórtex lamber tudo impiedosamente é o que muitas pessoas tem feito, caindo
em desgosto e depressão, e sem apoio nenhum de família ou amigos, não há
psicólogo que entenda, que conheça a realidade de quem não quer mais dar nenhum
passo, nenhuma palavra mais, tudo o enoja, ninguém é confiável...Ali, lhe é
arrancado muito mais que suor, sangue e horas, lhe é tirado a motivação para
qualquer coisa nesta vida. Logo, aquele ser consumista, também desaparecerá,
pois quem quer vender mais alguns meses da sua vida? Sabe-se que o preço
daquela “conquista’ será muito maior que o pago ao banco. Acordemos, ainda que
isso lhe custe ser julgado, ainda que isso lhe custe a solidão. Afinal, quem
passa por isso, tira a prova real do antigo ditado: Dinheiro não é tudo. Não!
Não é....