Me lembro de quando era pequeno, de todos os sorrisos e
cores que o verão trazia...Me lembro dos pés descalços, da areia quente, do
espírito livre, da água da bica, dos peões, das pipas, da bola... Da rede de vôlei
presa entre os postes, de correr contra o vento e da falta de preocupações.
Hoje o que vejo, são pessoas ilhadas, e cada vez mais soterradas por si mesmas,
cada vez mais distantes das outras, da razão, do amor, da alegria, do
calor...
Vazios crescentes tomam nossa rotina, ao compasso em que ainda tentamos entender, como e quando foi que deixamos de ser HUMANOS. A vida
tem nos empurrado cada vez mais para longe dos amigos, da família,
escravizando-nos pelo consumismo, e consequentemente, pelo trabalho. Há sede,
sobretudo de amor, de carinho, de justiça.... Há fome, de chances, de segundas
chances, de esperança, de mãos, pele, corpo... Mas o que temos de fato, são
olhos fixados em telas de 4k, multiplicadoras de discórdias e falsas imagens de
mundos e pessoas perfeitas.
Tão belo quanto saber de onde viemos, é ter a humildade
de refazer alguns passos.... Voltar atrás em algum ponto da vida, onde erramos,
retomar nossos caminhos... Porém, a
nossa própria frieza faz com que não seja possível voltar... Mesmo que pelos
próprios passos, pois se todo tem problemas... Todos temos que respeitar a “
história de vida” do outro... Todos caímos na armadilha de acreditar na beleza da neve, mas que nela, suas pegadas, sua caminhada se apaga... Se perde... Depois derrete.
Deixamos tanto de nós com outras pessoas... Amor, amizade...
Expectativas, que na maioria das vezes, em questão de tempo...Isso de
desfaz, morre, some, e nos mata aos poucos... Muito pelo que precisamos, e
buscamos, em pessoas que não tem tudo o que queremos... E queremos muito...
Muito...Mesmo não tendo do que nos queixarmos, sempre queremos mais... Sempre
nos falta algo... Sempre cresce esse vazio, essa necessidade de ser exemplo, de
se safar... De aparecer emoldurado na perfeição de vida que pintamos na tela de
um APP popular, de usarmos filtros, máscaras...Nos afastando cada vez mais do
que éramos pra ser...
Ainda assim, há quem acorde mais cedo desse longo sono, há
aqueles que buscam, mesmo que numa verdade mais dura, uma libertação... Há aqueles que se
assumem como são, param de se lamentar, ou de fazer tantas perguntas, e
começam a pensar em respostas...E mesmo que as pegadas tenham se apagado em
meio à neve, enxergam o farol... E o caminho até ele é rochoso, mas compensa...Tentar acendê-lo, para que mais pessoas possam acordar, para que mais pessoas
se enxerguem como são... Para que menos lágrimas sejam derramadas... Vale a
pena também, acender uma fogueira pelo caminho, para aquecer o peito, e voltar a
escutar as batidas do próprio coração... Para que o amor tenha chances de
renascer... Não por quem, mas porquê. Dizem que todos temos um porquê....
Talvez seja a hora de retomar essa busca.... Esse calor...Para quebrar o gelo,
para derreter a neve, para acabar com toda essa frieza...