Eu que sempre fui traído pela ausência de ego, pudor e estima, resolvi compartilhar com quem quiser histórias, contos, visões e textos provenientes dessa velha fábrica de criatividade que sou. Arquiteto de situações, pela capacidade de criar, moldar e pavimentar os sonhos, faço dos meus textos o portal para esse meu mundo, onde as nossas sentimentalidades são as linhas que minha caligrafia desliza. Assim sou eu, sincero, claro e verdadeiro. Bem vindos! A minha alma e ao meu valente coração!
domingo, 8 de julho de 2012
Apnéia
Um dia nós paramos, e por algumas horas refletimos sobre os acontecimentos recentes na nossa vida, e então percebemos que constantemente sofremos pressão, no trabalho, em casa, financeiramente, familiar... Para aonde isso tudo vai? Se não cedemos... não nos entregamos por causa de uma “pressãozinha” qualquer... Quer moleza? Vai ser observador! E instintivamente, até nós mesmos jogamos a pressão para as outras pessoas, julgamos que o trabalho de alguns é menos expressivo ou de menos esforço do que o nosso, até o dia em que precisamos sentar no lugar de um deles... Não, não há facilidade para ninguém!
Antigamente, víamos os consultores de RH traçando os perfis das pessoas que menos se deixam abalar por pressões como aptas, até todos nós “endurecermos” de vez, e tornássemos em nossa maioria, inatingíveis pela pressão. Mas até que ponto? Até onde vai a nossa resistência? Até quando ficaremos submersos nessa pressão represada... Firmando os pés na areia e deixando o maremoto passar por cima... Não nos deixemos iludir, mais dia... Menos dia a consequência disso aparecerá.
Sintomaticamente a paciência com coisas simples passa a inexistir, a solidez dos sentimentos também, as incertezas passam a ganhar terreno na medida em que o amor próprio passa a perdê-lo. Passamos então a não sermos melhor companhia, nos distanciamos das meticulosidades, nos atendo somente ao óbvio, ao que não nos faz pensar demais, pois nossa cabeça começa a doer, com uma simples música desagradável que escapa de um celular dentro do coletivo. Ao compasso que nos achemos mais fortes, nossa imunidade aos pequenos aborrecimentos vá ruindo... Deixando-nos sensíveis, e facilmente vulneráveis, seja ao total stress ou ao desespero. Já não há como ficar ali, precisamos desesperadamente de ar... Porém no dia em que tudo se romper, no dia em que você não aceitará mais ser escravo de tanta repressão de sentimentos... A tua explosão pode ser irreversível. Poderá magoar a quem ama perder o emprego, bater o carro... Perder a razão completamente.
Daí passa a te rotular como inconstante, ausente, bipolar e lá se vão suas amizades também. Paremos de brincar de apneia, de imaginar que podemos viver sem ar, sem se deixar destra ir, sem se deixar completar pelos outros, as preocupações, o trabalho... Roubam de nós a nossa capacidade de amar, até mesmo o que fazemos, e tudo se torna chato, insuportável. Reze, coma, beba, converse, beije, saia, sorria e se renda à vida, ainda que esporadicamente, não nascemos para sermos represas de ódio, rancor e agonia. Desprenda-se! Preste a atenção nas pequenas coisas, gaste mais tempo para solucionar seus problemas. Imagine-se fora da situação e terá uma melhor perspectiva, quem sabe a reposta? Está na hora de alguém gritar para sermos mais humanos, e menos mecânicos. A busca ensandecia pelos resultados, por extrair sempre o que há de mais criativo e produtivo de cada um está nos afastando das doces imperfeições de sermos humanos. Vá até a superfície vez ou outra, respire... E quem sabe terá uma grande surpresa... Reencontrará você! Como era! Daí é uma questão de escolha, respirar, ou praticar apneia, e ver até quando vive sem ar. Tente!
Meu escudo
Eu certamente faço parte de um grupo crescente de pessoas que tem uma vida aparentemente irretocável, que nada os falta que a felicidade é estampada em seu rosto, em seu olhar e em seu sorriso.
O grande lance dessas pessoas é omitir a fraqueza incrustada na nossa alma, maquiar os problemas, não dar aos “inimigos” um alvo mais vulnerável. Fazer as pessoas acreditarem que ao invés de estar sofrendo, você está bem, controlado, estável, é um dom. Muito embora fuja das minhas características qualquer tipo de omissão devido à minha natural transparência, decidi tomar para mim essa característica, para jamais me colocar à frente das outras pessoas. Chegou o tempo em que me preocupei em reduzir a dose de egoísmo que encontrei em minha alma, e passei a pensar mais nas outras pessoas, como elas me veem como eu sou o “centro das atenções”, como penso ser mais importante... Não mais, hoje, não sobreponho meus problemas aos de quem me cerca. Fico acuado, tenho medo muitas vezes. Mas não deixo ninguém ver que internamente, eu estou prestes a desmoronar. Como uma ironia quase literária, é quando estou mais sorridente que minha alma arde... Pedindo por uma ajuda, um alento que seja, porém, foi minha decisão aguentar o tranco sozinho.
Nada mais competentemente forte, e indubitavelmente convincente como o escudo do que o sorriso. Este desarma inimigos, aquece os amigos... Abre portas, sugere paz. Dentro de cada sorriso, existem dois mundos, em um deles, tudo é doce, as pessoas são gentis e as adversidades são como vírgulas num texto de ação, imperceptíveis. No outro, há segredos, preocupação que essa represa para a tristeza, algum dia se rompa, que alguém descubra pelos teus olhos quão desesperado teu sorriso se desenha. Pois se o sorriso é o teu escudo nada mais voraz que os olhos para ser tua espada, estes sim... Atacam... Conota a fúria, a calma, a dor, a alegria genuína de cada alma. Meus olhos me traem sempre, pois deles qualquer um me vê, realmente como sou.
Contudo, não há guerra ou paz que possa trazer à tona, essa verdade... Que teu sorriso esconde. Tem que ser algo inabalável, render-se jamais! Afinal a força que há dentro de cada um de nós provém muito mais da capacidade de absorver os golpes da vida e aprender com eles, domesticando a dor, do que propriamente indo a uma desorientada vingança, impensada... Tornar-se um guerreiro é saber a hora de lutar, contra o que lutar e como lutar, mas tornar-se um sábio, é lutar uma vez, para nunca mais ter que lutar. Absorva chumbo e remeta amor, um dia isso lhe trará paz, tente ao menos acreditar nisso, caso contrário, uma fresta no teu escudo poderá ser fatal.
sábado, 7 de julho de 2012
Entre o menino e o lobo
Seria simples retratar a alma de um homem como jovial ou envelhecida tomando como base as suas experiências, suas desventuras, suas lágrimas ou seus sorrisos, sua forma de enxergar a vida. Porém como sou avesso ao processo comum de rotulação, resolvi por meu prisma dissertar sobre as fases distintas da vida masculina.
Costumeiramente colecionam-se sorrisos, amigos e conquistas quando se é um menino, fora a acelerada fome de experimentos, os sabores, cheiros e desejos se multiplicam. O sangue ferve ao compasso que o coração fica meio de lado, o desprezo pela saúde e o culto ao desprendimento afetivo, seja familiar ou amoroso, nos faz sentir quase imbatíveis, invencíveis. Como se nada no mundo pudesse nos deter. Porém deixamos passar, nessa pressa desmedida de viver, muitos detalhes. Não vemos as causas tão pouco medimos as consequências dos nossos atos ou dos atos dos que nos cercam. A paciência é escassa, a timidez se despede do intelecto, e o raciocínio fica lento, porém, é notória a intensidade que se vive, como se não houvesse amanhã... Como se não envelhecêssemos nunca. Sinto falta da velocidade das coisas, de ignorar a digestão, e simplesmente devorar o que aparecia, conhecimento, cultura, festas...
Mas como o vinho, o tempo nos transforma em pessoas mais acessíveis, mais inteligentes. Passamos a ouvir muito mais do que falar... Aprendemos a admirar muito mais a qualidade e deixar de lado a quantidade. Tornamo-nos uma verdadeira biblioteca, organizamos as nossas experiências em arquivos, livramos nossa mente do imprestável. Onde antes se apreciava milhares de sabores, agora sabemos bem o que queremos, e como queremos. Onde antes nem notávamos o dia passar, agora apreciamos cada nascer e por do sol. Se antes só pedíamos a DEUS agora, nos concentramos mais em agradecê-lo. Se antes olhávamos mulheres como números, ou corpos que os nossos gritavam a necessidade de possuí-los. Agora, admiramos os passos, lemos os seus olhos, nos apaixonamos por seus sorrisos.
Tudo ao seu tempo, como deve ser, porém a transição não é calma, e indolor. Imagine uma pessoa que realmente ama a sua forma de ser, que não cogitara em momento algum, render-se ao tempo, uma vez que traz no sangue a voracidade de um menino e o caráter, a sapiência de um lobo? Difícil aceitar a rendição. Quando nos sentimos inabalados pelo tempo, inatingíveis por ele, tudo é tão simples. Mas quando as gerações entram em choque, e tudo a sua volta passa a não fazer muito sentido... Quando a comparação dos tempos de outrora se tornam inevitáveis... Ainda que suporte bem as novidades, se sinta em casa com as tecnologias a evolução. É muito difícil assumir que o teu tempo agora é passado, que você agora é museu, que nada do que diga ou faça te tornará um deles. E a sociedade te transforma num lobo...
Por mais que se queira, por mais que digam que isso é coisa da cabeça da gente, a exclusão é instintiva, por vezes até involuntária. Mas acontece. No mercado de trabalho, sentimentalmente, tornando aquele visionário de décadas atrás num homem com o olhar de um menino, com a sede de viver, a saudade de tudo aquilo que você nunca viveu latente... Devorando lentamente aquela alma que se julgava inatingível pelo tempo. Crescer é bom, cicatriza ferida, cura mágoas, olha-se a vida por um ponto estratégico, é como recuperar a inteligência por completo. É saber extrair o melhor de tudo, saber onde tocar, como tocar, ir direto aonde interessa dar valor a cada segundo, não deixar passar nada, na teoria, melhora-se em tudo. Mas dói, dói muito sentir sua alma, ter 25 anos no máximo, incompatíveis ao corpo que temos agora, que é suficiente apenas para abrigar o teu enorme coração e um cérebro que processa mais lentamente, porém é infinitamente mais seletivo, mais cirúrgico nas decisões. É uma dor de despedida. É uma dor silenciosa, corrosiva, e talvez... Infinita.
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