Eu que sempre fui traído pela ausência de ego, pudor e estima, resolvi compartilhar com quem quiser histórias, contos, visões e textos provenientes dessa velha fábrica de criatividade que sou. Arquiteto de situações, pela capacidade de criar, moldar e pavimentar os sonhos, faço dos meus textos o portal para esse meu mundo, onde as nossas sentimentalidades são as linhas que minha caligrafia desliza. Assim sou eu, sincero, claro e verdadeiro. Bem vindos! A minha alma e ao meu valente coração!
sábado, 7 de julho de 2012
Entre o menino e o lobo
Seria simples retratar a alma de um homem como jovial ou envelhecida tomando como base as suas experiências, suas desventuras, suas lágrimas ou seus sorrisos, sua forma de enxergar a vida. Porém como sou avesso ao processo comum de rotulação, resolvi por meu prisma dissertar sobre as fases distintas da vida masculina.
Costumeiramente colecionam-se sorrisos, amigos e conquistas quando se é um menino, fora a acelerada fome de experimentos, os sabores, cheiros e desejos se multiplicam. O sangue ferve ao compasso que o coração fica meio de lado, o desprezo pela saúde e o culto ao desprendimento afetivo, seja familiar ou amoroso, nos faz sentir quase imbatíveis, invencíveis. Como se nada no mundo pudesse nos deter. Porém deixamos passar, nessa pressa desmedida de viver, muitos detalhes. Não vemos as causas tão pouco medimos as consequências dos nossos atos ou dos atos dos que nos cercam. A paciência é escassa, a timidez se despede do intelecto, e o raciocínio fica lento, porém, é notória a intensidade que se vive, como se não houvesse amanhã... Como se não envelhecêssemos nunca. Sinto falta da velocidade das coisas, de ignorar a digestão, e simplesmente devorar o que aparecia, conhecimento, cultura, festas...
Mas como o vinho, o tempo nos transforma em pessoas mais acessíveis, mais inteligentes. Passamos a ouvir muito mais do que falar... Aprendemos a admirar muito mais a qualidade e deixar de lado a quantidade. Tornamo-nos uma verdadeira biblioteca, organizamos as nossas experiências em arquivos, livramos nossa mente do imprestável. Onde antes se apreciava milhares de sabores, agora sabemos bem o que queremos, e como queremos. Onde antes nem notávamos o dia passar, agora apreciamos cada nascer e por do sol. Se antes só pedíamos a DEUS agora, nos concentramos mais em agradecê-lo. Se antes olhávamos mulheres como números, ou corpos que os nossos gritavam a necessidade de possuí-los. Agora, admiramos os passos, lemos os seus olhos, nos apaixonamos por seus sorrisos.
Tudo ao seu tempo, como deve ser, porém a transição não é calma, e indolor. Imagine uma pessoa que realmente ama a sua forma de ser, que não cogitara em momento algum, render-se ao tempo, uma vez que traz no sangue a voracidade de um menino e o caráter, a sapiência de um lobo? Difícil aceitar a rendição. Quando nos sentimos inabalados pelo tempo, inatingíveis por ele, tudo é tão simples. Mas quando as gerações entram em choque, e tudo a sua volta passa a não fazer muito sentido... Quando a comparação dos tempos de outrora se tornam inevitáveis... Ainda que suporte bem as novidades, se sinta em casa com as tecnologias a evolução. É muito difícil assumir que o teu tempo agora é passado, que você agora é museu, que nada do que diga ou faça te tornará um deles. E a sociedade te transforma num lobo...
Por mais que se queira, por mais que digam que isso é coisa da cabeça da gente, a exclusão é instintiva, por vezes até involuntária. Mas acontece. No mercado de trabalho, sentimentalmente, tornando aquele visionário de décadas atrás num homem com o olhar de um menino, com a sede de viver, a saudade de tudo aquilo que você nunca viveu latente... Devorando lentamente aquela alma que se julgava inatingível pelo tempo. Crescer é bom, cicatriza ferida, cura mágoas, olha-se a vida por um ponto estratégico, é como recuperar a inteligência por completo. É saber extrair o melhor de tudo, saber onde tocar, como tocar, ir direto aonde interessa dar valor a cada segundo, não deixar passar nada, na teoria, melhora-se em tudo. Mas dói, dói muito sentir sua alma, ter 25 anos no máximo, incompatíveis ao corpo que temos agora, que é suficiente apenas para abrigar o teu enorme coração e um cérebro que processa mais lentamente, porém é infinitamente mais seletivo, mais cirúrgico nas decisões. É uma dor de despedida. É uma dor silenciosa, corrosiva, e talvez... Infinita.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário