domingo, 28 de abril de 2013

A fábrica de decepções


Sentimentalmente falando, depois da humilhação e da rejeição, seja amorosa ou preconceituosa, a decepção é a que causa mais estragos ao coração e a alma do ser humano. Eu tenho sérios motivos para crer que todos nós algum dia já sofremos uma decepção, ou maiores daquelas que abrem um buraco no coração e nos incapacita de confiar em qualquer que seja, ou aquela mais tola como não guardar um simples segredo confiado a alguém.
É difícil policiar-se sobre decepção, pois quem é verdadeiro claro e sincero, pode, ainda que não seja intencional magoar alguém, decepcionar... Implodir a imagem boa que essa pessoa tem de ti. Bastam palavras, gestos e tudo se esvaem como areia entre os dedos. Mas quem seria o culpado pela decepção? O ser que decepciona? Ou quem é decepcionado? Quem decepciona é sempre o culpado em nível de conhecimento social, porém a trama é mais complexa. Esquecemos-nos  sempre de dimensionar as coisas. Quando conhecemos alguém, e o encanto se torna real, nos tirando a lucidez, saímos do chão e da lógica, esperamos sempre os melhores gestos, as melhores decisões daquela pessoa tão “fabulosa” que acabamos de conhecer, afinal, beberam em suas palavras...
Somos nós quem depositamos uma confiança desmedida, nutrimos uma expectativa surreal sobre a pessoa que nem sequer desconfia, e quando assaltados pela flagrante simplicidade do ser, disparamos contra o nosso próprio coração palavras firmes de desencanto como: “É só isso?” “Esperava mais de você...” Fantasiamos tanto com a perfeição que queremos em alguém que desabamos ao não encontra-la mais uma vez, vestimos a pessoa com tudo o que sempre sonhamos de bom, honestidade, retidão, alinhamento de intelecto, paridade sentimental, lealdade e fidelidade. Porém, nos esquecemos de um mero detalhe... O perfeito inexiste! O perfeito é o que nos completa e ponto.
A imperfeição é a ruga na testa da vida, está sempre ali, com todos nós. Todos somos imperfeitos de alguma forma ou não seria imperfeição achar-se perfeito? Soberba! Somos imperfeitos, todos nós. Não há dono da verdade e soberano em comportamento, somos mortais e imperfeitos. Santos não caminham nessa terra, somente homens e mulheres que como tais são oriundos do pecado.
Se um dia eu pudesse fazer apenas uma pergunta ao criador sobre a essência da humanidade, seria: “Senhor, porque temos esse dom da decepção?” – Porque quem ama sofre tanto? Em qualquer balança, colocamos um peso dobrado em relação ao peso que a pessoa amada. Esperamos sempre um amor em igual proporção... Sempre uma via de mão dupla. Será que somos individuais até na forma de amar, de demonstrar ou não isso? Aí é que mora a dúvida. Somos nós que esperamos demais das pessoas? Ou as pessoas que não estão nem aí para o que sentimos?
Independente do que seja uma coisa é certa, somos decepcionantes e decepcionados na mesma proporção até o dia que percebemos que é exatamente o imperfeito do outro que nos fascina, nos encanta... Seja provocante, seja libertador ou até mesmo para tentar uma vã correção dessa imperfeição. O que é de fato inegável é que desconhecemos o amor divino, aquele incondicional... Esperamos sim, sempre algo em troca, ou de volta e assim, a velha fábrica de decepções continua a expelir sua fumaça... E os corações seguem sofrendo, pois o vazio de um adeus é pequeno frente ao buraco que uma decepção faz em nosso peito, em nossa alma.


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