sábado, 22 de fevereiro de 2014

Tolos e Carentes

                       
         Todos conhecem o rótulo da provável fórmula química do amor: Os opostos se atraem... Mas como sempre, estou aqui para discordar e dissertar sobre o tema, mesmo com as já emblemáticas reticencias que traçam tão bem meu estilo.  O amor é algo tão gigantesco, é um evento tão grandioso na vida de uma pessoa que rouba todos os holofotes, nos deixa dispersos, desatenciosos. É algo único, e mesmo sendo reincidente, tem a ternura da primeira vez, porque o amor não avisa, não tem sintomas e quase sempre nos torna relutantes, sem querer assumir que caímos no abismo entre o coração e a razão. Por este motivo, enxergo que existem dois tipos de pessoas que compõe as histórias de amor... O tolo e o carente.
                       O tolo é aquele que se destaca pela capacidade de desfazer-se rapidamente do raciocínio lógico. É aquele que se doa mais, que insistentemente acredita, que “dessa vez vai ser diferente”. O tolo ama, esperando ser amado em proporção igual ou maior, vigia, espera e sonha com o encontro de almas que o fará feliz por toda a eternidade... O Tolo ignora sinais, confia, deixa que o sentimento dele guie cada passo que dará e a cegueira profunda do coração toma seu corpo por inteiro, sem medir consequências ou temer negativas ele salta... Acreditando que o amor que sente, bastará, ainda que não haja tamanho amor da outra pessoa, o amor que ele sente bastará. O Tolo crê no AMOR.
                        O carente se destaca facilmente por estar sempre buscando em um abraço, em um beijo, o porto seguro da sua vida. Para o carente, não importa quantas vezes se tente, só importa que um dia encontre essa pessoa que lhe trará a paz. Geralmente o carente é um recém-ferido, resultado de um fim de relacionamento conturbado. Não se encolhe, se acovarda ou teme tentar de novo, o carente vive em uma eterna busca pela paz, pela redenção, por proteção, por alguém que se importe com ele, alguém que cuide dele, que ele possa chamar de seu. E, por viver sempre armado, acreditando que se machucará novamente se confiar em alguém não se permite amar... Não se doa; não sente. O carente crê no HOJE.
                       E assim a trama se complica, carentes e tolos se conhecem e se envolvem, porém tudo que um mais quer é tudo aquilo que o outro mais teme, e muito embora a felicidade esteja ali, ao alcance dos dois... Tudo se desfaz, geralmente com o pretexto mais absurdo, sem sentido algum, daí... O Tolo sofre, e o carente... Volta a sua busca... Vez ou outra dá certo, quando o amor brota dos olhos, e assalta os sentidos... Exala aquela magia inexplicável, e, pouco a pouco o Tolo vai se tornando mais carente, e o carente se tornando um Tolo, e tornam-se um só ser, um só coração, esses escrevem as mais lindas histórias.

                       Contudo, presencio sempre o medo de ser feliz que aflige os dois lados dessa moeda, as duas faces do amor. Um teme amar demais, o outro teme jamais ser amado como deveria... E ninguém cede. Felicidade através de amor está se tornando tão raro, porque por medo de nos ferirmos deixamos passar a chance de vivenciarmos as mais lindas histórias de amor. Pergunte-se sempre se não compensa dar a si mesmo a chance de se surpreender, deixar que tudo aconteça... Sem medo, sem pressa, nem sempre as melhores histórias são as mais perfeitas, olhe mais nos olhos de quem diz te amar, lá sempre se encontra a verdade. Jamais duvide! Quem ama de verdade fará o impossível por amor, pois as noções de certo e errado, de razão e até mesmo de auto piedade se perdem no momento em que diante do espelho os olhos dizem: Vá atrás de quem você ama! Tolos sofrem, carentes buscam... E as fichas entram novamente na máquina, o jogo continua...

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Síndrome de Montanha Russa

                   É petrificante... Daqui de baixo vemos os rostos das pessoas, algumas sorriem, outras externam o medo e há alguns rostos que conotam surpresa... Os milhares de tons de cores das luzes em movimento... Fascinante!Ao lado, triste como um moinho de vento abandonado está a Roda gigante... Ninguém mais tem tempo de apreciar a vida vagarosamente, estamos sempre encantados pela intensidade que não nos permitimos olhar pra vida de cima, ou de baixo... Só a corrida incessante pela próxima emoção.  E são tão constantes essas alternâncias de status, de humores... Vitórias... Derrotas, lágrimas e sorrisos vão e vem de nossas vidas tão rápidas...Porque só reconhecemos o amor de outra pessoa quando a perdemos, só enxergamos o quanto fomos amados quando o tempo e as comparações nos fazem ver o quão preciosa era aquela pessoa...
                      Houve um certo tempo que seria assustador imaginar que poderíamos sorrir pela manhã e ir dormir aos prantos, mas é exatamente o que ocorre... Nossos corações não se adaptam na mesma velocidade que os acontecimentos, por isso às vezes, ficamos aqui em baixo, olhando as pessoas subindo, descendo, curvando freneticamente, absolutamente despreocupadas com o que virá na próxima curva, no falso despencar do carrinho. Olhamos encantados os corajosos que ignoram completamente a possibilidade de o carrinho sair da pista. Da pista simplesmente ruir. Quantas e quantas vezes nos sentimos protegidos, seguros em nossas redomas, sejam elas familiares ou amorosas, e algo acontece, rompe a redoma... Nos tira o chão... E o gosto de derrota avança sobre a laringe quase ao mesmo tempo em que vislumbramos a vitória... Daí recuperamo-nos, nos levantamos... Conseguimos nos reerguer descobrindo forças que nem nós mesmos sabíamos que tínhamos. Revivemos.
                        Mas do que adianta revivermos hoje para morrermos novamente amanhã? Do que adianta amarmos de coração e alma, nos doarmos por inteiro a esse sentimento que todos sabemos é secular e puro se esse sentimento é frágil, é de vidro... Quebra-se fácil e nos remete a depressões tão gigantescas, que enterramos nossa vontade de amar tão fundo em nossa alma que supostamente nem nós mesmos encontraríamos novamente. Queria pairar sobre o tempo e observar-me ali, nesse movimento, em meio às luzes, transitando entre os sorrisos e as lágrimas e sem tempo algum para mim, eu creio que essa capacidade de análise se consegue somente através da paz...

                         Contudo, morrer e viver todos os dias não é nenhuma figura de linguagem, mas sinceramente me assusta a ideia de estar preso nessa síndrome de montanha russa, onde eu sofro e sorrio , sorrio e sofro sem saber sequer distinguir se estou sendo feliz ou infeliz, se me sinto completo ou sozinho, se tenho amigos ou colegas. Falta algo, tempo talvez, amor próprio ou autocrítica, mas se tivesse que apostar, eu diria que nos falta convicção. Falta a convicção para assumir-se cansado de brincar de montanha russa, para dizer para si mesmo que o coração não comporta as intermináveis mudanças de status. Falta convicção para olharmos uns nos olhos dos outros e sentirmo-nos seguros.