sábado, 30 de maio de 2020

Espírito livre


                                             
    A liberdade é um sonho.... Em todos os aspectos da vida. Inimaginável em alguns casos ver a si mesmo como dono de si, de seus atos, de seus pensamentos.... Por mais liberais que possamos ser, por mais desprendidos da matéria que possamos nos achar ainda estamos presos, de fato, a correntes inquebráveis de decisões, de sentimentos, de condições.... Podem não ser visíveis aos olhos que te veem, podem não ser admissíveis por nós.... Mas basta fazer uma só pergunta a nós mesmos para entender: Você pode ir aonde quer agora? A resposta é não. Não podemos, não devemos, não iremos. Estamos todos presos. Não podemos ir onde queremos, fazer o que queremos menos ainda no tempo que queremos. Esse é o real conceito de prisão. Não são grades, não são correntes.... É a privação da liberdade. Do ser, poder, estar.... Embora essa privação exista, ela nunca será uma privação total e absoluta. O trabalho, a escola, o relacionamento, a família, a condição financeira, são os elos da corrente que nós mesmos fundimos ao nosso redor. O tempo são as barras de ferro que crescem à nossa frente como e fossem tocar o céu. E nada é no nosso tempo.... Nada é totalmente como se quer.... Nunca temos condição de fazer.... E principalmente, não podemos fugir para longe de tudo só porque temos vontade.... Tudo parece distante, intocável, mas não é.  Esse prisional é real, mas não totalmente intransponível, há formas de se mover, de chegar aonde se quer e enganar o tempo...
                                                   Vivemos em constante opressão, queira pelos fatores externos como o trabalho, que sempre exige um nível acima de dedicação, um nível acima de tolerância, de subserviência, até, uma compreensão além da conta nos momentos mais difíceis mediante a totalidade de resultados que na maioria das vezes não te dão sequer as condições de obtê-los, ou na faculdade que a  maioria não está nem aí, e isso traz ao professor a sensação de insatisfação consigo mesmo e exige cada vez mais, de cada um , sendo que cada pessoa absorve os golpes da vida de forma diferente, cada um tem condições diferentes de tempo e disponibilidade... Isso quando os dois não se somam à fatores internos como ter  uma vida financeira desequilibrada e uma família que exige total atenção, o que faz com que nós mesmos, nos tornemos nossos próprios opressores... Afinal, ser pai é não querer para os filhos o que de mal nos aconteceu... É querer, mesmo que em vão, evitar que tenham dificuldades. Ter um relacionamento é se doar e ser parceiro sempre e esperar que receba de volta tudo aquilo que se dá. Muitas as vezes sem ter noção alguma se o que temos doado de nós ao relacionamento é proporcional ao que queremos de volta... É estar sexualmente disposto quando seu amor está sexualmente indisposto, é ter discordâncias banhadas de problemas e esperança de que tudo esteja bem ao fim do dia. Ser filho é cuidar depois de ter sido cuidado, é acolher e se preocupar com a saúde física e mental dos pais, sempre tentando ser neutro nas brigas de família, é tentar reunir sempre os irmãos e minimizar os atritos... Sem falar na sociedade, sempre ditadora de modas, estilos, estereótipos, sempre deixando subentendido que precisamos tomar partido de qualquer lado que seja... Seja na música, na política, no esporte, nas camadas que a mesma desenha a cada dia. E nós? O que sobra de humano em nós? O que realmente queremos?
                                            Quando estamos sós, encontramos ali.... Naquele pequeno espaço entre a oração e o sono, nosso lugar.... Um refúgio inalcançável a qualquer fator opressor, longe de qualquer corrente, além das barras frias de ferro.... Quem é de mar, caminha pela praia, quem é do campo, cavalga o cavalo branco pela estrada de terra que margeia o lago, quem é de montanha, estende as pernas sob o horizonte perto da fogueira, acompanhado de um bom vinho... Mas todos, sem exceção tem consigo aquela paz... Sonhada, fica-se um tempo sozinho, mas aos poucos é possível enxergar quem amamos chegando até nós... Seria um sonho, mas é melhor, quase se sente o gosto do vinho, o vento do litoral, o cantar dos pássaros...É quase real, é atemporal. Ali, não há dores ou pressões .... É silencioso e consolador. Jamais podem aprisionar os nossos espíritos... O corpo pode padecer, mas a alma é livre para ir onde quiser, e quando quiser. Há, claro, condutores para que isso seja possível em qualquer tempo, a música e a fotografia são condutores.... Por isso viajar é tão relacionado a liberdade, a felicidade.
                                            Deste modo, mesmo levando em considerações que não há modelos de personalidades, e comportamentais cem por cento confiáveis, pois seres humanos não vem com manual, somos imprevisíveis, mutáveis e volúveis, é relativamente possível que um número considerável de pessoas se identifique com essa minha versão de fuga mental. A gente se dedica tanto... Tanto do nosso tempo para sermos a nossa melhor versão para tudo o que temos que fazer e para todos com quem temos que nos relacionar, há tanta pressão sobre nós, e ainda, nós mesmos colocamos mais.... Que quando pudermos parar para reavaliar, para pensar, estaremos doentes, cansados demais... Tomados de loucura, stress.... Não há tempo de olharmos para nós mesmos, de nos cuidarmos. Temos que criá-lo. Não se consertam aviões e navios em plena viagem... São feitos reparos. Esses são os nossos reparos. Minimizando danos maiores a única pessoa que não conseguimos amar direito: Nós mesmos. Como o pai mesmo nos ensinou: Ame ao próximo.... Como a ti mesmo.
Liberte-se, se ame e tenha suas doses de felicidade que tanto almejas...

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