domingo, 19 de setembro de 2021

Intangível

 


        Todas as coisas que ocorrem nas nossas vidas, tudo o que se vive, se observado por mais de um ângulo, tem um ponto de vista inverso. O que para você pode parecer absurdamente fácil, para centenas de outras pessoas se torna extremamente difícil, o que você realiza com prazer, ás vezes até como hobbies, é o sacrifício da vida de outros... Pensemos por um segundo num salto de paraquedas... Quando é a prática de um esporte, se trata, de um equipamento especializado de cálculos intermináveis sobre condições climáticas, sobre ponto exato de salto fora a conferência e preocupação dos equipamentos de segurança... Que culmina com um salto perfeito, imagens e sensações que provavelmente nunca sairão da lembrança de quem salta, a adrenalina, o domínio sobre o medo... Mas tudo sai, exatamente como planejado... O paraquedas abre na altitude certa, o pouso é perfeito, exatamente no local determinado... Sorrisos, gritos eufóricos... Celebração. Mas nem sempre é assim com todos.... Outra coisa completamente diferente é ser posto à força num avião e ser arremessado dele sem paraquedas, sem local determinado, ou preocupação com segurança. Assim é a vida, você acha que possui os maiores problemas do mundo, até conhecer alguém com problemas maiores que os seus...

                                      Sempre me questionei, por exemplo, porque uma pessoa cai tanto? Porque ela abandona tudo, inclusive a condição humana básica? O que faz com que pessoas se droguem, se embriagam, se entorpecem e... Em casos extremos, se suicidam? Porque? Esse ato de egoísmo que retrata uma absurda falta de fé é tão assustador quanto frequente? Bem, é como disse. As pessoas são extremamente diferentes, a absorção de golpes fortes, leves, são diferentes para cada um.... Para muitos, um corte, para outros arranhões.... O fato é, que não se trata de uma falta de fé, necessariamente, aliás, é a fé em si mesmo que os abandona, juntamente da confiança em Deus. Quando nos declaramos cristãos, irmãos em fé, essa fé tem que consistir em acreditar, praticar e confiar. Uma sequência de episódios ruins abala a fé sim, de qualquer pessoa... Se formos olhar o todo, qualquer um, quando tudo começa a dar errado, clama a Deus em indagações de por que? Quando isso vai acabar? Não é qualquer pessoa que reage bem ao mundo se implodindo sobre suas cabeças todos os dias, que acredita poder sobreviver com a espada sobre seu pescoço, as lanças sob seu corpo, as miras sob sua cabeça. Não é. E então, surgem as fugas.... Os vícios, as fraquezas, todos o anestesiando de tudo.... Aquela vontade de sumir, deixar tudo isso para trás, mas a impossibilidade de mostrar fraqueza de um covarde que abandona a luta, condiciona o ser humano a criar a cortina de fumaça embasada em se fazer de forte enquanto se dissolve em vícios.  E assim todos sucumbem, pois, a necessidade de ser quem não é, um dia acaba... O medo de ser julgado também.... Sem a culpa, sem expectativas, sem saída, aparentemente, a pessoa se sente absolutamente, sozinha, abandonada... E cai.

                                          Estar onde não se quer estar, fazer o que odeia fazer, demonstrar algo que não é... Tudo isso cobra um preço muito caro ao ser humano. Ao contrário do que se prega e do que se acredita ser real, o dinheiro, a vida social, o status não compra paz de espírito, bem como se dizer crente em Deus não o credencia a suportar tudo se você não o tiver dentro de si verdadeiramente. Deus está sempre conosco, mas nós, somos nós que nos afastamos dele ou tentamos o afastar a todo momento, sobretudo com nossos atos. Eu creio muito em algo que já foi muito banalizado, de tão clichê muitos fazem piada, mas é simples... Deus tem um plano para cada um de nós... É verdade! Na maioria das vezes não entendemos o porquê ainda passamos por determinadas provas, por determinadas situações que rogamos tanto para que Deus retire de nossos caminhos... Mas no fim tudo se explica... Pode ser alguém que precisa de você, algo que você ainda precisa aprender, ou vivenciar... Mas tem sim, fundamento, embora invisível aos nossos olhos.

                                           Cair é muito fácil. Hoje tudo ao nosso redor é moldado para que se caia. Mas há, uma mão que te segura.... Você a corta, retira seus dedos um a um, pede para ir, pede para que te deixe cair, que te deixe morrer, pois seria o fim de todo sofrimento, tenta de toda forma, solta essa mão, mas ela segue te segurando.... Segue te mantendo aqui. Não importa o que você faça. Ser pai é muito difícil.... Pois você se projeta demais em seus filhos.... Na sua cabeça tudo no fundo, no fundo, tem a ver com você. Não quer que seu filho sofra o que você sofreu, não aceita que ele tenha facilidade onde você teve dificuldades, debocha dos tempos distintos, tenta proteger e confiar e se vale do medo para vigiar, diz não influenciar, mas sabe da sua referência, e o aconselha sempre a fazer o que você acha certo, e se sente traído quando não acontece o que você planejou pra eles...Nós somos filhos de um Deus que nos ama como somos, que nos deixa escolhermos nossos caminhos, e, ainda, nos espera retomar a escolha certa. Nos arrepender. Que nos permite sonhar... O sonho é junto da fé, o nosso maior combustível. E como tal eles devem coexistir em nossas almas eternamente. Nunca devemos abandonar nossos sonhos. Sonhar é gratuito, e embora seu sonho muitas vezes sejam coisas simples, coisas palpáveis há algumas pessoas.... Mantenha-o vivo em ti! O sonho é seu refúgio mais seguro.... É a corda que você se segura ao inverso da âncora que os vícios e as fraquezas representam.... Sonhe! Permita que sua mente acredite no sonho, e te leve para lá ao menor sinal de turbulência, afinal, como eu disse lá em cima: A fé, se subdivide em praticar, em confiar e acreditar. Permita-se acreditar, confie no plano de Deus para ti, e assim terá paz para praticar. Não se iluda, há pessoas que precisam de ti, que sentiram sim sua falta, há algo que ninguém faz como você na vida, o caminho das realizações é pavimentado por impropérios.... Nunca deixem de sonhar!

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Rasuras

 

                     


                    Os anos se passaram e com eles a grande máxima de toda lei, norma, diretriz... “Vale o que está escrito”. Este conceito anda se desgastando, derretendo como cera... O que escrevemos viaja pelo vento às mentes que podem captar ou não, podem se identificar ou não, podem entender ou não e se quiserem, interpretar ao seu próprio modo. Vivemos tempos sem editores, sem limites para a criatividade e julgamento, estamos na era da liberdade digital, onde todos podem tudo, sem nenhum limite. Em tempos como este, pode ser fácil passar pelos firewalls das mentes.... Entrar e sair.... Influenciar em modas, posição política, e raciais, basta o apelo certo no momento oportuno.... Afinal quem não segue o modelo perfeito? O corpo exuberante, a maquiagem irretocável, o look perfeito? Quem não deseja os corpos que dançam e se movem em simetria... Sempre com a dose certa de sedução e fitness.... Quem?

                                                       Porém, não é uma ciência exata, tudo está mudando muito velozmente, todos se destacam e se descartam com igual rapidez.... Pois atingem ao cérebro do público, mas não chegam aos seus corações.... Por mais rasos que possam ser, ou estar. Existem pessoas que não são tão susceptíveis, já outras que se escondem em subterfúgios como estes que descrevo, mas tem o coração cansado, que anseia por respostas cujas perguntas não quer fazer ou não sabe.... Para estes, nada parece fazer muito sentido... Pois não há para a vida nenhum manual, não há modo padrão que funcione com todos... O belo pode ser frágil, o forte  por vezes é o feio, o feio se torna automaticamente o excluído, o vulgar tem sido o exaltado, o exaltado que sempre se torna o primeiro a ser  julgado, o vencedor é o indigno, o trabalhador é o desfavorecido, o mérito inexiste e os únicos padrões que importam são os impostos pela nova ordem de opinião flutuante dos apps...Nada tem lógica, e para esses, sempre é uma questão de passos... Há dois passos de se consagrar, ou a dois passos de saltar do trampolim... Rumo ao desconhecido, rumo ao escuro, ao esquecimento, à solidão, ao caos.

                                    Um dos mistérios da psicologia, da fé e da razão, porque e como uma pessoa chega ao ponto de querer se autodestruir, atentar contra si, contra sua vida.... Não é um fato, e, claro, não há uma receita, padrão. É uma simbiose de falta de fé em si mesmo, falta de fé em Deus, sensação de abandono, somado a vários acontecimentos que afunilam no sincero desejo de finalizar com isso, a quem se encontra neste ponto, não se trata de uma vida, se trata de pôr fim a tudo isso que atormenta, como única saída. O egoísmo desse ato sequer passa pela consideração deste, que ignora aos que o amam, passa desapercebido daqueles que o pressionam, porque a pressão é uma cadeia de alimentação que vem de cima para baixo, que tem como principal base, repassar o que te foi cobrado, com igual ou pior truculência. Para esses cujos próximos dois passos serão rumo ao caos.... Sugiro uma última olhada, à sua volta, que seja. Claro, ninguém aguenta perder, perder, perder e perder sem folga. Ninguém aguenta injustiça, traição, mentira, roubo e cólera ao mesmo tempo... Ninguém. Exatamente! Nem os modelos, nem os perfeitos, nem os extremamente felizes, nem os chefes, os superiores, os esnobes os bitolados, ninguém. Somos todos, extremamente falhos. Mas vamos além desse filtro de felicidade que tentam nos aplicar.... Busque em memórias de seu coração ou de outros corações que o seu está contido, os momentos felizes. Não existe felicidade linear, são momentos.... Muitos deles simples, que nós temos a autonomia em transforma-los em felizes.... Não olhando somente onde, mas com quem, não somente quando, mais como.... Nós temos as respostas. Nem sempre as que precisamos, mas temos.... Às vezes, voltamo-nos aos céus com perguntas do tipo.... Por que? Como isso foi acontecer? Quando na verdade, deveríamos pedir respostas de como e o que precisamos fazer para melhorarmos.... Depois, termos coração para sabermos qual resposta é de qual pergunta. Não há modelos, não há receita, não há perfeição em ninguém.... Em anos de vida, se constata que o único sentido que se encontra na vida é que geralmente, o que se quer é o dobro do que se tem, e também a metade do que se precisa... E precisamos de tão pouco...

                                     Assim sendo, rasure todas as normas e regras, esqueça as leis que os homens tentam imprimir em suas mentes, as fronteiras, as ideologias, a economia, os status, a raça.... Tudo o que se cria, para instaurar a ilusão de separação, de seleção, de escolhas...O caos existe, e está sendo alimentado pela nossa confusa obstinação em sermos algo que não somos. Aos olhos do nosso pai, não precisamos nos acorrentar aos que se dizem perfeitos e puros, mas sermos simplesmente sinceros com ele e consigo mesmo, sabendo que somos fracos, falhos, pecadores, e queremos mudar... Às vezes não temos o que é preciso, mas a real intensão, a vontade de ser melhor, de ser próximo ao que seu pai sonhou pra ti, essa é a centelha, a fagulha, o contato que lhe faz se levantar todos os dias, sem saber como... Sem forças, sem expectativas, sem paz, sem amor próprio... A dois passos... Resta, definirmos em qual direção.

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Sonhos e pecados

 

                 Indiscutivelmente, todos sonhamos.... Seja acordado, seja dormindo, sonhos absurdos, ou palpáveis, eles seguem em uma cadeia inquebrável mesmo após nos tornarmos adultos.... Eles nunca nos deixam.... Nunca. São diretamente ligados à nossa esperança. Alguns de nós, sonha alto, em milhões, mansões, iates, carrões, mudança total e eterna de estilo de vida, outros já não tem tamanha pretensão.... Sonham em ter o que temos hoje. Uma casa própria, um carro, um emprego, não dever nada a ninguém, simplesmente não deixar seus filhos passarem necessidades.... Outros, sonham em amar.... Em viver o grande e verdadeiro amor.... Engravidar, se casar, interromper uma sequência de decepções com pessoas que não compreendem, não valorizam, quiçá correspondem ao amor a eles destinado.

                                  Há também quem escolhe viver cada um desses como fases, começando pelos bens materiais, evoluindo para as expectativas pessoais, e finalizando com a simplicidade.... Isso mostra que há uma discrepância entre o que a gente quer... E o que realmente a gente precisa. Se você tem milhões, logo quer gastar milhões... O melhor e mais novo carro, a maior e mais luxuosa casa, o iate de maiores pés..., mas o que realmente se precisa? Essa resposta vem ao passar dos anos, quando fica cada dia, cada segundo da nossa existência, mais claro que precisamos de tão pouco para viver bem.... Que se soubéssemos desde o início, não teríamos nos complicado tanto pelo caminho.... Não teríamos quisto tanto coisas que não agregam em nada, e são inúteis sem companhia, sem tempo ou sem paz. Nada tem mais valor do que isso. Tempo, boa companhia e paz. No fim, é do que se trata.  Viver sem faltas, viver com o mínimo de preocupação e cobrança possível. Sem stress, sem perda de saúde, de tempo, de vida.... Viver exatamente o inverso do que a maioria vive hoje... Desacelerado, desapegado, sem ostentar nada, sem compartilhar nada, simplesmente viver com quem ama, com o que for suficiente para que seus últimos dias sejam mais próximos do que Deus sonhou para nós.

                               Já os pecados, esses nos assombram sempre. Sejam em doses homeopáticas, ou viciantes, ele vem, e vem sem nenhuma vontade ou descrição, vem sem medo e sem nenhuma timidez, não pedem mandam, não falam, gritam. E tentam ser a todo custo o contrapeso na nossa balança moral. E quase sempre são.... Não são muitas as pessoas que atingiram ou atingem a santidade, que a maioria busca, não à toa... A causa são os pecados.... Eles nos roubam a atenção.... Nos tiram o foco, nos tiram do caminho.... Ainda que não estejamos perdidos para sempre, pois sempre somos encontrados por quem nunca nos abandonou. Eles simplesmente nos devoram.

                            Pecamos em pensar, pensamos sempre. Pecamos por agir, a grande maioria não se segura, pecamos pela soberba, pecamos em julgar o outro e pecamos ainda mais por sermos hipócritas em pensar igual, agir igual e criticar..., mas é como somos, é o que nos define como humanos. FALHOS. Então me digam... Como alguém assim pode merecer realizar seus sonhos? Como pedir algo sendo, simplesmente assim... Inconstante, indigno? Como pedir perdão e esperar ser perdoado, sabendo no íntimo do seu ser que fará de novo, ou pensará nisso, basta uma junção provável de oportunidade e fraqueza. Como?  Na minha opinião, sendo nós mesmos. Sendo autênticos e verdadeiros, consigo mesmo. É preciso ser para si, a versão que quer que todos te vejam. É preciso agir consigo mesmo, como quer que todos ajam com você. Se não se ama, como amá-los? Se não és verdadeiro consigo mesmo, como quer crédito? Se tenta ocultar algo do onisciente, como espera ter paz? E ter paz.... É algo que mesmo sem saber, sentir ou citar, todos buscamos, entre amor e felicidade, é a paz que buscamos.... Quando ouvimos que descanso e paz só com a morte, é porque nos condicionamos assim, nos conformamos em mentir e nos sentir indignos. Mas há algo imenso e irrefutável a ser dito.... Quem nos ama.... Quem realmente tem que nos amar.... Quem realmente importa que nos ame... O faz como somos. Inteiros, simples, falhos, fracos, humildes. Eu reconheço quem sou todos os dias, e tento pedir o mínimo possível, e implorar pela minha alma diariamente, como se eu não fosse acordar, pois assim é a vida:  um sopro. Assim é a felicidade: momentos. Assim é a paz: eterna. Somos quem somos e está longe do que devemos ser, mas querer melhorar como pessoa é o que nos torna, ainda assim, amados, aceitos e capazes de ter paz em vida e em tempo. Não há uma conta simples...Não existem meios pecados, não existe “se”, tampouco certezas, não há fórmulas ou compensações, bem como não há um número limitado de chances ou distância do caminho certo que determine ou defina quem somos...O agora é tudo o que temos, façamos o melhor dele. Acima de nós, só há um para julgar e determinar a meritocracia verdadeira... E ele sempre quer ver a sua melhor versão POSSÍVEL de você, e é o que devemos querer também.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Reboot

 


              Era para ser um início de década empolgante, vários inícios e inúmeros recomeços se misturavam numa nuvem de otimismo que atingia boa parte do nosso povo. Mas os dias ensolarados do verão passado se tornaram nebulosos, e nem sequer com a notícia que vinha do outro lado do mundo nos demos conta da gravidade do que se aproximava lentamente de nós.... De nossas casas, de nossas famílias. Assistimos a tudo o que acontecia pela TV e ainda assim subestimamos a natureza, mais uma vez... O tempo de se preparar para o que chegava se esvaiu como areia entre os dedos, e em meio a divisão de opiniões fomos tomados de assalto, pela nossa soberba, pela nossa prepotência talvez, não importa. O fato é que fomos atacados de surpresa. Ainda que não fosse tão “surpresa” assim... E então, uma vez mais, contrariando a lógica, não nos unimos contra algo que atingia a todos, mas nos dividimos entre os que temiam pela economia e os que temiam pela vida. Como se um existisse sem o outro.... Enfim, não há cunho político algum em relatar o que sentimos... E senti medo. Medo por nós, por todos nós.... Por que muitos de nós, não só não sentiram o mesmo medo, como desafiavam todas as normas e cuidados contra o que viria.

                  Por meses o que vimos foi uma guerra, cada vez mais um contra o outro enquanto médicos e enfermeiros enxugavam gelo tentando salvar vidas, e sem sucesso, tentando alertar para a gravidade de tudo. Milhões perderiam o emprego, outros milhares perderam a vida, e todos perdemos a paz.... Tudo se tornou ameaça. Não haveria mais casamentos, formaturas, viagens, shows, visitas... No fundo temi mesmo por não haver mais chances de dizer a algumas pessoas o que sentia. A economia, como disseram, entrou em colapso. Bem como o sistema de saúde que já não era funcional. E hoje, ainda vaga entre nós o caos e as incertezas, na verdade, somos uma ilha feita de caos cercada por um oceano de incertezas...

                 Ainda assim, mesmo que seja romantismo de minha parte, ou mesmo uma costumeira mania de viver a vida tentando me levantar.... Mas acredito mesmo.... Logo eu, o pessimista nato, que haverá um reboot, um impulso, um efeito que nos catapultará a nossas vidas normais.... Ou o que acreditamos ser normais.... Muitos pequenos e médios empresários perderam tudo, muitos setores simplesmente beiram o desaparecimento, mas o que creio que seja a nossa salvação é um dos nossos maiores defeitos. Somos consumistas por natureza. Não é de a cultura do povo brasileiro poupar ou esperar pelas coisas, nós simplesmente fazemos. E haverá uma procura enorme por aquilo que há muito não se tem... Casamentos, formaturas, festas, viagens.... Isso tudo está represado, claro que se os empresários tentarem desesperadamente tirarem seu prejuízo nos primeiros clientes, isso os afugentará, mas se aproveitarem bem.... Haverá muita procura. E uma demanda grande exigirá trabalho dobrado que exigirá mais pessoas e haverá vagas...

                     Contudo, não são essas as mudanças que mais me inspiram.... Não são só essas mudanças que espero ver e viver. O que sonho mesmo são as mudanças no coração de cada um de nós. Que percebamos novamente o valor de ser livre... Liberdade é algo que não pode ter preço.... Tem que ser inegociável. Que possamos insistir em ter paz, pois de nada adianta termos condições de comprar o que quisermos e não termos paz. Não precisamos de divisões, não precisamos de autoritarismo ou anarquia, precisamos de justiça, de justiça de fato. Não falo da justiça penal, falo da distribuição mesmo. Falo de ser justo. De ter e deixar ter... De ao invés de um ganhar cinco mil, cinco ganharem mil. Falo aqui da valorização do ser humano e daquilo que ele faz. De não tratar quem trabalha com ameaça ou como se estivesse prestando-lhe um favor em mantê-lo empregado. Quero que menos absurdos sejam vistos com normalidade que o caos não seja o novo normal.... Que haja de fato um futuro. Não para partes mas para um todo. Todas as manhãs o sol invade a janela de nossas casas anunciando mais uma chance que temos de fazermos melhor. De sermos as melhores versões de nós mesmos. Que façamos de toda essa tragédia uma reinicialização completa. É a chance de fazermos o bem para nossos filhos com o mal que vivemos. Ao meu ver, não podemos simplesmente voltar ao que fazíamos anteriormente, sem reflexão. Nada pode ser como antes mais, temos que aprender. Tudo tem que ter mudado... O mundo... O mundo ele ficou melhor sem nós. Praias mais limpas, bichos saldáveis, poluição menor.... Então, poderíamos voltar para esse mundo, pessoas melhores também. Esse seria nosso maior reboot. É nossa maior chance.

sábado, 30 de maio de 2020

Espírito livre


                                             
    A liberdade é um sonho.... Em todos os aspectos da vida. Inimaginável em alguns casos ver a si mesmo como dono de si, de seus atos, de seus pensamentos.... Por mais liberais que possamos ser, por mais desprendidos da matéria que possamos nos achar ainda estamos presos, de fato, a correntes inquebráveis de decisões, de sentimentos, de condições.... Podem não ser visíveis aos olhos que te veem, podem não ser admissíveis por nós.... Mas basta fazer uma só pergunta a nós mesmos para entender: Você pode ir aonde quer agora? A resposta é não. Não podemos, não devemos, não iremos. Estamos todos presos. Não podemos ir onde queremos, fazer o que queremos menos ainda no tempo que queremos. Esse é o real conceito de prisão. Não são grades, não são correntes.... É a privação da liberdade. Do ser, poder, estar.... Embora essa privação exista, ela nunca será uma privação total e absoluta. O trabalho, a escola, o relacionamento, a família, a condição financeira, são os elos da corrente que nós mesmos fundimos ao nosso redor. O tempo são as barras de ferro que crescem à nossa frente como e fossem tocar o céu. E nada é no nosso tempo.... Nada é totalmente como se quer.... Nunca temos condição de fazer.... E principalmente, não podemos fugir para longe de tudo só porque temos vontade.... Tudo parece distante, intocável, mas não é.  Esse prisional é real, mas não totalmente intransponível, há formas de se mover, de chegar aonde se quer e enganar o tempo...
                                                   Vivemos em constante opressão, queira pelos fatores externos como o trabalho, que sempre exige um nível acima de dedicação, um nível acima de tolerância, de subserviência, até, uma compreensão além da conta nos momentos mais difíceis mediante a totalidade de resultados que na maioria das vezes não te dão sequer as condições de obtê-los, ou na faculdade que a  maioria não está nem aí, e isso traz ao professor a sensação de insatisfação consigo mesmo e exige cada vez mais, de cada um , sendo que cada pessoa absorve os golpes da vida de forma diferente, cada um tem condições diferentes de tempo e disponibilidade... Isso quando os dois não se somam à fatores internos como ter  uma vida financeira desequilibrada e uma família que exige total atenção, o que faz com que nós mesmos, nos tornemos nossos próprios opressores... Afinal, ser pai é não querer para os filhos o que de mal nos aconteceu... É querer, mesmo que em vão, evitar que tenham dificuldades. Ter um relacionamento é se doar e ser parceiro sempre e esperar que receba de volta tudo aquilo que se dá. Muitas as vezes sem ter noção alguma se o que temos doado de nós ao relacionamento é proporcional ao que queremos de volta... É estar sexualmente disposto quando seu amor está sexualmente indisposto, é ter discordâncias banhadas de problemas e esperança de que tudo esteja bem ao fim do dia. Ser filho é cuidar depois de ter sido cuidado, é acolher e se preocupar com a saúde física e mental dos pais, sempre tentando ser neutro nas brigas de família, é tentar reunir sempre os irmãos e minimizar os atritos... Sem falar na sociedade, sempre ditadora de modas, estilos, estereótipos, sempre deixando subentendido que precisamos tomar partido de qualquer lado que seja... Seja na música, na política, no esporte, nas camadas que a mesma desenha a cada dia. E nós? O que sobra de humano em nós? O que realmente queremos?
                                            Quando estamos sós, encontramos ali.... Naquele pequeno espaço entre a oração e o sono, nosso lugar.... Um refúgio inalcançável a qualquer fator opressor, longe de qualquer corrente, além das barras frias de ferro.... Quem é de mar, caminha pela praia, quem é do campo, cavalga o cavalo branco pela estrada de terra que margeia o lago, quem é de montanha, estende as pernas sob o horizonte perto da fogueira, acompanhado de um bom vinho... Mas todos, sem exceção tem consigo aquela paz... Sonhada, fica-se um tempo sozinho, mas aos poucos é possível enxergar quem amamos chegando até nós... Seria um sonho, mas é melhor, quase se sente o gosto do vinho, o vento do litoral, o cantar dos pássaros...É quase real, é atemporal. Ali, não há dores ou pressões .... É silencioso e consolador. Jamais podem aprisionar os nossos espíritos... O corpo pode padecer, mas a alma é livre para ir onde quiser, e quando quiser. Há, claro, condutores para que isso seja possível em qualquer tempo, a música e a fotografia são condutores.... Por isso viajar é tão relacionado a liberdade, a felicidade.
                                            Deste modo, mesmo levando em considerações que não há modelos de personalidades, e comportamentais cem por cento confiáveis, pois seres humanos não vem com manual, somos imprevisíveis, mutáveis e volúveis, é relativamente possível que um número considerável de pessoas se identifique com essa minha versão de fuga mental. A gente se dedica tanto... Tanto do nosso tempo para sermos a nossa melhor versão para tudo o que temos que fazer e para todos com quem temos que nos relacionar, há tanta pressão sobre nós, e ainda, nós mesmos colocamos mais.... Que quando pudermos parar para reavaliar, para pensar, estaremos doentes, cansados demais... Tomados de loucura, stress.... Não há tempo de olharmos para nós mesmos, de nos cuidarmos. Temos que criá-lo. Não se consertam aviões e navios em plena viagem... São feitos reparos. Esses são os nossos reparos. Minimizando danos maiores a única pessoa que não conseguimos amar direito: Nós mesmos. Como o pai mesmo nos ensinou: Ame ao próximo.... Como a ti mesmo.
Liberte-se, se ame e tenha suas doses de felicidade que tanto almejas...

terça-feira, 21 de abril de 2020

CONTÁGIO


                           
              Vivemos dias de absoluta comoção, e algo que, sinceramente, não esperava viver para ver , mas se desenvolve bem diante dos meus olhos.... Algo até então impensável, mensurável apenas como sétima arte. Mas não, estamos sim, vivendo os piores pesadelos de nossa era.... Logo nossa geração, que sempre imaginou que guerras e poluição nos devastaria, mas a natureza, sempre encontra um caminho. Não poderia, ainda que relutantemente me abstenho de uma posição política, deixar de vir, aqui retratar meus sentimentos, como sempre o faço... é verdade, que de forma mais espaçada nos últimos tempos, por motivos de saúde somados a motivos pessoais, mas jamais me omitiria, jamais, meus pecados são tantos, mas não esse...
                               Curiosamente, o antidoto provisório e desesperado que se encontrou foi o isolamento.... Logo esse.... Tão comum na era moderna...O praticamos com tamanha destreza, tamanha sagacidade que nem sentimos culpa por isso…vivemos em caixas de entretenimento que variam as polegadas e definições, mas não nos conectam a corpos como antes.... Nos deram a difícil missão de fazermos aquilo que somos especialistas em fazer, como ferramenta para evitar nossas mortes.... Ficar em isolamento. Não ver mais nossos pais, avós, amigos, alguns até ficam longe do stress do trabalho físico. Mas, isso pode, ainda que como novidade para muitos, ser extremamente danoso às mentes, à alma, e sobretudo, aos corações.
                                Falo com o sentimento de quem, talvez, seja especialista, em afastar pessoas. Eu sou assim, tenho essa acidez rotulada em mim, não consigo mais, em nenhuma circunstância ser a mesma pessoa que antes abraçava e angariava amigos.  As derrotas e decepções podem sim, amargurar um coração ao ponto de quase torna-lo incapaz de enxergar além daqueles que estão ao seu lado, e creio, que isso pode ter sido o que se deu comigo. Tenho visto tanta gente refletindo de fato, sobre esse afastamento, sobre, como não se vive mais em comunidade, com a saudade de magnitude colossal, porque, de fato, há muito tempo, não vemos o outro.... Não sabemos que está ali... É da natureza humana se redescobrir em momentos como esse, se fazer cooperativo, solidário, irmão. É notório que sob essa condição somos mais capazes de romper as barreiras de gêneros, religiões, classes sociais.... Nos tornamos quase unidade, se colocar no lugar do outro...
Em contrapartida, há o estado de contágio verdadeiro: o envenenamento político.  Num momento delicado para o mundo, vemos algumas pessoas quase chegando as vias de fato por defenderem lados opostos politicamente falando. Dia a dia, crescem os contagiados pelo ódio, e pela ingênua sensação de que ter a razão irá trazer algum conforto, algum alívio. Milhões deixam famílias órfãs com proporções de confrontos armados ao mesmo tempo em que alguns acreditam se tratar de um jogo de xadrez, movendo peças, ganhando terreno.... Não poderemos nos recuperar de tudo isso, se não encaramos as coisas, como elas são. O mundo a qual conhecemos, os sonhos, os planos que tínhamos na virada do ano passado para esse ano, mudaram, tudo foi alterado.... Adiado, ou perdido. Casamentos que tinham sido planejados por anos, formaturas que eram sonhadas semestre a semestre, aulas que foram interrompidas, viagens canceladas, empregos perdidos, salários fracionados, fome e dor potencializadas. A cada boletim diário, um número assustador... Vidas perdidas, lágrimas, dor. E muitos se queixando de não ter mais paciência de esperar tudo passar.... É algo mundial, mas que afeta cada país com a realidade em que vive. Nosso sistema de saúde sempre foi precário, e nosso país é geograficamente vasto.... Somado ao fato de termos abismos sociais tão profundos que se estendem desde o descobrimento, nos torna alvo fácil nessa pandemia. Não podemos sob nenhum aspecto, dar importância a qualquer que seja o lado, pois, esse lado não existe. Não aqui.... Não hoje, não agora.... Não sob essas circunstâncias. O que existe, é o que vai ser feito, e o que vai acontecer, seja lá o que for... Seremos nós que arcaremos com tudo. Tudo. Se vivermos que esse traço esquecido de humanidade que temos resgatado seja de fato a cura. Senão para o vírus, para nossa vida. Para que tenhamos menos corações amargos. Menos rótulos, menos distância entre nós. Temos que tirar ao menos essa lição, de que todo o trabalho de quem está se arriscando para que fiquemos a salvo não seja em vão.... Para que tamanho distanciamento não se eternize em nossas almas.
                                   Portanto, a resposta para aqueles que se perguntam aonde está Deus no meio dessa pandemia, praga, peste, o nome que se dê ao que vivemos, continua sendo o amor. Não pelo que vemos no espelho, mas pelo que vemos à nossa frente, ao nosso lado.... No outro lado do muro, no outro lado da cerca, da cidade, do estado, do país do mundo. O amor pelo próximo, a genuína vontade de que ele sobreviva, que se cure, que não sinta fome, nem frio, que não se desempregue, que não morra. A bandeira do nosso Senhor: O amor à vida. Em estado pleno.
Cuidem-se meus irmãos.

domingo, 13 de outubro de 2019

Frieza


                     Me lembro de quando era pequeno, de todos os sorrisos e cores que o verão trazia...Me lembro dos pés descalços, da areia quente, do espírito livre, da água da bica, dos peões, das pipas, da bola... Da rede de vôlei presa entre os postes, de correr contra o vento e da falta de preocupações. Hoje o que vejo, são pessoas ilhadas, e cada vez mais soterradas por si mesmas, cada vez mais distantes das outras, da razão, do amor, da alegria, do calor...
               Vazios crescentes tomam nossa rotina, ao compasso em que ainda tentamos entender, como e quando foi que deixamos de ser HUMANOS. A vida tem nos empurrado cada vez mais para longe dos amigos, da família, escravizando-nos pelo consumismo, e consequentemente, pelo trabalho. Há sede, sobretudo de amor, de carinho, de justiça.... Há fome, de chances, de segundas chances, de esperança, de mãos, pele, corpo... Mas o que temos de fato, são olhos fixados em telas de 4k, multiplicadoras de discórdias e falsas imagens de mundos e pessoas perfeitas.
                                                 Tão belo quanto saber de onde viemos, é ter a humildade de refazer alguns passos.... Voltar atrás em algum ponto da vida, onde erramos, retomar nossos caminhos...  Porém, a nossa própria frieza faz com que não seja possível voltar... Mesmo que pelos próprios passos, pois se todo tem problemas... Todos temos que respeitar a “ história de vida” do outro... Todos caímos na armadilha de acreditar na beleza da neve, mas que nela, suas pegadas, sua caminhada se apaga... Se perde... Depois derrete.
                                                 Deixamos tanto de nós com outras pessoas... Amor, amizade... Expectativas, que na maioria das vezes, em questão de tempo...Isso de desfaz, morre, some, e nos mata aos poucos... Muito pelo que precisamos, e buscamos, em pessoas que não tem tudo o que queremos... E queremos muito... Muito...Mesmo não tendo do que nos queixarmos, sempre queremos mais... Sempre nos falta algo... Sempre cresce esse vazio, essa necessidade de ser exemplo, de se safar... De aparecer emoldurado na perfeição de vida que pintamos na tela de um APP popular, de usarmos filtros, máscaras...Nos afastando cada vez mais do que éramos pra ser...
                                                 Ainda assim, há quem acorde mais cedo desse longo sono, há aqueles que buscam, mesmo que numa verdade mais dura, uma libertação... Há aqueles que se assumem como são, param de se lamentar, ou de fazer tantas perguntas, e começam a pensar em respostas...E mesmo que as pegadas tenham se apagado em meio à neve, enxergam o farol... E o caminho até ele é rochoso, mas compensa...Tentar acendê-lo, para que mais pessoas possam acordar, para que mais pessoas se enxerguem como são... Para que menos lágrimas sejam derramadas... Vale a pena também, acender uma fogueira pelo caminho, para aquecer o peito, e voltar a escutar as batidas do próprio coração... Para que o amor tenha chances de renascer... Não por quem, mas porquê. Dizem que todos temos um porquê.... Talvez seja a hora de retomar essa busca.... Esse calor...Para quebrar o gelo, para derreter a neve, para acabar com toda essa frieza...