domingo, 6 de janeiro de 2013

A Bússola

“ Caminhava sempre desatento ou despreocupado demais com o que pudera de fato me atingir fortemente, me roubar a atenção, olhar para os lados... Atravessar as ruas com atenção... Tudo aquilo que fora me passado por zelo e atenção eu cumpria instintivamente. Não me julgava tão capaz de a essa altura compreender o sentido que a vida tem, ou o porquê das mudanças da maré. Eu ignorava mesmo qualquer chance de sair daquela rotina mecanizada em que minha vida se tornara por anos, onde decorei as pedras do meu caminho, pelo simples fato de nunca mudar de caminho. Tempestades viam e iam, mas jamais mudavam o meu curso, nada nunca alterou meu curso, eu já naveguei em riachos, em corredeiras, e em lagos, e nunca ... Nunca me desnorteei, porém jamais cheguei intacto ao fim do curso, meu barco sempre virava. Ou se colidia com algo gigantesco, como a decepção que de constante pedra que rasgava o casco, passara a ser também previsível, também esperada em minhas jornadas. Minha velha bússola sempre me trazia em segurança para casa, sempre chegava, ainda que derrotado ou decepcionado naquela minha cabana simples e me deitava sobre a folha seca do coqueiro observando as estrelas, enchendo o meu coração de “por quês?” indagações ilimitadas que me acompanhavam até o sono chegar... A bússola é um instrumento de precisão, baseado basicamente no magnetismo da terra, ou seja, desde que tudo esteja em seu devido lugar, me guiar num curso errado é impossível. Mas o inesperado faz parte das histórias mais marcantes, e assim, como um passe de mágica, a minha bússola enlouqueceu...E nada mais parecia fazer sentido, os polos terrestres pareciam estar invertidos, tudo ao contrário, e o que era para ser errado se tornou o mais correto a se fazer, o sol que nascia no leste agora brilha sorridente e convidativo onde a minha bússola marca o oeste. E assim, fiquei sem saber para onde ir, como voltar... Neste momento eu parecia navegar no céu... E o sol me sorria do mar, deixando aquele verde ainda mais perfeito, todas as cores pareciam ainda mais vivas, todas as derrotas pareciam nunca ter existido e tudo o que eu sempre sonhei estava acontecendo... Eu não sabia mais onde era o meu porto... E mesmo quando acertei o rumo de casa, eu sempre virava o leme para outro ponto no horizonte, guiado pelo sol, aquele sol imenso, que tocou tudo o que antes era cinza e fez o meu mar de tristeza, se tornar um oceano de sorrisos. E o teu brilho era grandioso o bastante para acender em mim um farol que eu não sabia que ainda podia ser aceso, e assim tenho iluminado tudo, todos onde passo... O meu grande desafio agora é manter minha luz. O sol jamais morrerá dentro do meu peito, arde forte sem cessar, não me deixa sequer cogitar voltar a ser triste. E todos os dias eu olho pro céu rezando por aquele fenômeno magnético estar ativo ainda, e confiro sempre a minha bússola. Certo de que um dia o Sol me levará ainda mais longe, além do compreensível , do sensato, do improvável, do imponderável. Afinal, todos temos que nos deixar levar por algum magnetismo nessa vida... Por sorte, o meu me levou pro céu. Que perdure pela eternidade esse sol ,essa luz.”

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