quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Barcos

Nossas fases da vida são como folhas no outono... Podemos vê-las de forma extremamente complexas ou de forma surpreendentemente simples. Tudo depende do estado de espírito de cada um de nós, do amadurecimento da alma, da capacidade de absorção de golpes que cada corpo tem...Então eu as vislumbrei de forma comparativa...
“Somos como barcos... Ainda pequenos, somos cuidadosamente dobrados, embalamos sonhos de outras pessoas... Mas ainda que por um desafio, mesmo que não estejamos prontos, somos postos na água, ignorando completamente o fato de sermos ainda, feitos de papel... Se não tivermos a capacidade de superar problemas, corremos o óbvio risco de nos desfazermos ao longo dos primeiros anos. Ao crescermos, adquirimos velas, e com elas o desejo de irmos embora, rumo alto-mar, conhecermos novos portos, vermos o sol nascer e se por dos pontos mais perfeitos... E vagarosamente, o vento nos conduz. Quando enfrentamos a primeira tempestade, temos a clara sensação de que iremos nos arrebentar contra as rochas, que iremos cortar o casco nos corais e nos partiremos em pedaços nos recifes, mas ao amanhecer ainda resta o suficiente para seguirmos em frente, dependendo somente do vento... O casco pode estar danificado, estarmos cheios d’água, mas basta uma “marolinha” que nos locomoveremos novamente ainda que lentamente... E mais uma vez, desejamos ter um motor, para que possamos ir... Não somente longe, mas irmos mais rápido, o tempo da vela já não nos satisfaz mais, e assim tudo acontece: Ganhamos motor.  Conhecemos muitos lugares nos apaixonamos por eles e pelas pessoas que neles conhecemos, e nessa jornada, nos damos conta que precisamos atracar... Não pode ser em qualquer porto, precisamos encontrar um porto perfeito, para ancorarmos , fazermos reparos, olharmos para o mar de um ângulo diferente.
      A busca pelo porto perfeito nos distrai, torna-se obsessão, e logo que encontramos aquele que acreditamos ser o porto seguro, atracamos e ali, sol, chuva, trovões e tornados, todos passam, mas estamos ali ancorados, e quando nos demos conta, nossas ancoras estão se corroendo, nossa madeira apodrecendo, e nenhum por do sol parece ser tão belo, todos parecem ser iguais... Todos os dias, todas as horas, vemos tudo e todos passarem ancorados no mesmo lugar, e ali, em meio a barcos, botes, pesqueiros, navios e vapores, que vem e vão, ficamos ancorados, parecendo fadados a nos tornarmos casa de pelicanos, refúgio de gaivotas...
      Mas chega um dia em que desejamos ter velas novamente, então nos desfazemos do peso do motor, e mesmo sem pintura, e com reparos mal feitos decidimos partir novamente, desancoramos, e içamos as nossas velas, bem cedo, ao nascer do sol, o cheiro do mar, os sons, tudo parece perfeito como na primeira vez que partimos, não nos importamos mais com a maresia ou com as tempestades que incessantemente tentam nos derrubar, nos virar, estamos de volta ao calor, nada mais de solidão em meio a todos aqueles navios, botes e barcos, a sensação de liberdade parece mesmo não ter preço! As tormentas se sucedem, mas enquanto tivermos ao menos uma vela, e o vento, isso nos basta... Logo percebemos que essa é a essência, que essa relação é a única que não se desfaz,  que não se quebra com o tempo: As nossas velas e o vento. E vamos... Passamos pelas rochas, arrebentamo-nos contra elas, rasgam nossas velas, mas inexplicavelmente, amanhece e somos levados novamente pelo velo vento. Até quando não temos mais rumo, quando a calmaria se faz constante, e aparentemente ficamos à deriva... Não acreditamos em porto algum, não queremos mais ver nenhuma ilha, nenhum pedacinho de terra, nada... Estamos ali, somente esperando que uma simples ondinha nos derrube de vez, eis que surge novamente o vendo, manso e leve nos empurra mesmo que não infle nossas velas, faz com que saímos do lugar, ainda que despretensiosamente... Para onde iremos agora? Por que seguimos? São perguntas que não temos resposta... E novamente somos somente barquinhos frágeis guiados pelo vento”.

    Esperança, felicidade, conquistas, amor... Ainda que não almejássemos nada disso mais, ainda sentimos algo nos mover, é o vento... A fé em DEUS ou a fé de DEUS em nós... Que nunca nos deixa só, o único que nos acolhe e não nos decepciona... Deixemos de lado motores, portos, ambições e amores, mas jamais percamos a fé, nem quando seu maior desejo, é não ter desejo algum, basta um vento, basta uma brisa, uma “marolinha” e vamos... Rumo à tempestade ou a calmaria, não importa, se lá... Não estivermos sós, se lá... o amor de DEUS estiver!

Nenhum comentário:

Postar um comentário