Nossas fases da vida são como folhas no outono... Podemos
vê-las de forma extremamente complexas ou de forma surpreendentemente simples.
Tudo depende do estado de espírito de cada um de nós, do amadurecimento da
alma, da capacidade de absorção de golpes que cada corpo tem...Então eu as
vislumbrei de forma comparativa...
“Somos como barcos... Ainda pequenos, somos cuidadosamente
dobrados, embalamos sonhos de outras pessoas... Mas ainda que por um desafio,
mesmo que não estejamos prontos, somos postos na água, ignorando completamente
o fato de sermos ainda, feitos de papel... Se não tivermos a capacidade de
superar problemas, corremos o óbvio risco de nos desfazermos ao longo dos
primeiros anos. Ao crescermos, adquirimos velas, e com elas o desejo de irmos
embora, rumo alto-mar, conhecermos novos portos, vermos o sol nascer e se por
dos pontos mais perfeitos... E vagarosamente, o vento nos conduz. Quando
enfrentamos a primeira tempestade, temos a clara sensação de que iremos nos
arrebentar contra as rochas, que iremos cortar o casco nos corais e nos
partiremos em pedaços nos recifes, mas ao amanhecer ainda resta o suficiente
para seguirmos em frente, dependendo somente do vento... O casco pode estar
danificado, estarmos cheios d’água, mas basta uma “marolinha” que nos
locomoveremos novamente ainda que lentamente... E mais uma vez, desejamos ter
um motor, para que possamos ir... Não somente longe, mas irmos mais rápido, o
tempo da vela já não nos satisfaz mais, e assim tudo acontece: Ganhamos
motor. Conhecemos muitos lugares nos
apaixonamos por eles e pelas pessoas que neles conhecemos, e nessa jornada, nos
damos conta que precisamos atracar... Não pode ser em qualquer porto,
precisamos encontrar um porto perfeito, para ancorarmos , fazermos reparos,
olharmos para o mar de um ângulo diferente.
A busca pelo
porto perfeito nos distrai, torna-se obsessão, e logo que encontramos aquele
que acreditamos ser o porto seguro, atracamos e ali, sol, chuva, trovões e
tornados, todos passam, mas estamos ali ancorados, e quando nos demos conta,
nossas ancoras estão se corroendo, nossa madeira apodrecendo, e nenhum por do
sol parece ser tão belo, todos parecem ser iguais... Todos os dias, todas as
horas, vemos tudo e todos passarem ancorados no mesmo lugar, e ali, em meio a
barcos, botes, pesqueiros, navios e vapores, que vem e vão, ficamos ancorados,
parecendo fadados a nos tornarmos casa de pelicanos, refúgio de gaivotas...
Mas chega um dia
em que desejamos ter velas novamente, então nos desfazemos do peso do motor, e
mesmo sem pintura, e com reparos mal feitos decidimos partir novamente,
desancoramos, e içamos as nossas velas, bem cedo, ao nascer do sol, o cheiro do
mar, os sons, tudo parece perfeito como na primeira vez que partimos, não nos
importamos mais com a maresia ou com as tempestades que incessantemente tentam
nos derrubar, nos virar, estamos de volta ao calor, nada mais de solidão em
meio a todos aqueles navios, botes e barcos, a sensação de liberdade parece
mesmo não ter preço! As tormentas se sucedem, mas enquanto tivermos ao menos
uma vela, e o vento, isso nos basta... Logo percebemos que essa é a essência,
que essa relação é a única que não se desfaz, que não se quebra com o tempo: As nossas velas
e o vento. E vamos... Passamos pelas rochas, arrebentamo-nos contra elas,
rasgam nossas velas, mas inexplicavelmente, amanhece e somos levados novamente pelo
velo vento. Até quando não temos mais rumo, quando a calmaria se faz constante,
e aparentemente ficamos à deriva... Não acreditamos em porto algum, não
queremos mais ver nenhuma ilha, nenhum pedacinho de terra, nada... Estamos ali,
somente esperando que uma simples ondinha nos derrube de vez, eis que surge
novamente o vendo, manso e leve nos empurra mesmo que não infle nossas velas,
faz com que saímos do lugar, ainda que despretensiosamente... Para onde iremos
agora? Por que seguimos? São perguntas que não temos resposta... E novamente
somos somente barquinhos frágeis guiados pelo vento”.
Esperança,
felicidade, conquistas, amor... Ainda que não almejássemos nada disso mais,
ainda sentimos algo nos mover, é o vento... A fé em DEUS ou a fé de DEUS em
nós... Que nunca nos deixa só, o único que nos acolhe e não nos decepciona...
Deixemos de lado motores, portos, ambições e amores, mas jamais percamos a fé,
nem quando seu maior desejo, é não ter desejo algum, basta um vento, basta uma
brisa, uma “marolinha” e vamos... Rumo à tempestade ou a calmaria, não importa,
se lá... Não estivermos sós, se lá... o amor de DEUS estiver!
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