domingo, 18 de janeiro de 2015

Falésias

O que nos tornamos afinal? Quando a maré abaixa, e podemos ver a destruição que ela causou no continente...No que nos transformamos senão um ponto de interrogação refletido nos olhos das outras pessoas?
Rocha. É o que mais queremos ser, ou transparecer é a rocha, algo forte e intransponível...Capazes de resistir à investida incessante da força das ondas, não há problemas que nos derrubem, não há preocupações que roubem nossos sorrisos, e nada transformará nossas vidas... Nada a deixará em pedaços. Sim, queremos ser rochas que avançam imponentes contra o mar....Muitos de nós, se enrijecem ao longo dos anos e até conseguem, por um período ostentar o status de forte. Mas a grande maioria de nós, finge ser forte. Finge não sangrar...E como veste bem a túnica da invencibilidade, como é favorável erguer o queixo, estufar o peito e se achar superior. O alheio é tão falso quanto o indolor.
                    Mas sempre há aquele que descobre que as maiores verdades são mentiras... “Quem fala a verdade não merece castigo” ...Ora, então porque quem fala a verdade tem o microfone fechado? Quem fala a verdade é ridicularizado, desacreditado, tido como louco, tendo que provar ser verdade a verdade que diz... Absurdo! “O que os olhos veem o coração não sente” Mas se esqueceram de nos dizer que o amor vai além do “ver” vai além da troca de olhar, isso é só o início, o amor verdadeiro, basta o silêncio, basta um segundo de mente vazia, basta fechar os olhos que a mente desenha em 3D o rosto de quem mais amamos... E é tão real...Parece que podemos tocar...Mentir para o mundo cansa, dói, traz um tipo de culpa que só o tempo nos mostra, traz a consciência um peso diferente... A sensação de farsa é inevitável, mas mentir pra si mesmo... É impossível. Nossa vontade de parecermos fortes nos textos, nas fotos, na fala, no andar é tão grande que nos apressamos para escondermos nossas feridas, afinal ninguém precisa saber que eu sangro... Ninguém pode ouvir meu gemido, ninguém pode secar meus prantos...As porradas que a vida dá machucam, destroem muito mais do que a pele a alma...E então há quem se canse de fingir, há quem se canse de posar de alheio, de intransponível. E um dia retiram-se os curativos, arranca-se a máscara... Deixa-se de ser rocha. Mostra-se enfim o que é, simples...Falho, fraco, cansado, triste ou amargurado, desmotivado ou carente, mas sobretudo, enfim alheio... Alheio às opiniões sobre sua essência. A vida nos transforma todos os dias, aprendemos a ver e a ler as pessoas, aprendemos a recalcular os valores de todas as coisas e dar de ombros para os juízes dos teus sentimentos. É aí, exatamente aí que a diferença entre a rocha e a falésia se faz preponderante...A rocha se apresenta ali, imponente, desafiando a força das ondas, das marés, se fazendo de forte por ser imperceptível ao olho nu seu desgaste...Sua dor... Já a falésia, ela mostra suas feridas, mostra o que as ondas fazem com ela, expõe sua dor, e por não ser tão imponente, talvez não seja tão bela... Mas é ali, na simplicidade de mostrar a verdade do que se é, que mostra-se a real capacidade de desafiar o tempo, de desafiar os impropérios, de descobrir-se mais forte do que demostra ser... Adaptando-se.

                  Dessa forma, ainda que conduza sua vida por caminhos distantes dos ideais, ainda que tenhas vivido sobe a máscara de uma força que você só conhece dos personagens, debaixo de uma capa de invencibilidade que vestisse afim de conquistar admiradores e amigos...O dia de falar e viver da verdade chega, e nesse momento, se perceberá que nada disso faz a menor diferença, ninguém vai te amar mais se fores forte como uma rocha, e não serás menos digno se mostrares suas feridas. Orgulhe-se de ser assim... Fraco, falho, mostre a todos que você pode sangrar e talvez ao invés de tubarões...Quem se chegará ao teu lado serão verdadeiros admiradores da tua integridade e da hombridade de mostrar suas feridas e adaptar-se à força das ondas...Pois só quem vive de mentiras temerá aquele que luta a favor da verdade. Talvez esteja aí a chave do tal amor próprio...Talvez...

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