domingo, 25 de março de 2018

A corda


          É quase imperceptível o quanto nos amarramos, nos enlaçamos… Todo o tempo, e a vida inteira…. Em pessoas, em coisas, em lugares, em carreiras. Mas o irônico é que quando o laço vira nó, todos querem desatar, sentimos o ar se esvair, sufocados e quase sem força, no ápice do desespero buscamos algo cortante, para que o mais rápido possível venha o alívio, o ar…. Para que possamos respirar…
                A corda que prende é a mesma que salva, por vezes nos encontramos tão no fundo de algum desses milhões de poços desespero que a vida tem…. Daqueles que geram frases motivacionais como: “O bom de chegar ao fundo é que só se pode ir para cima…“ oramos sistematicamente por alguém que apareça e nos jogue uma corda…Mas o nosso maior desejo pelo menos uma vez por semana é cortar as cordas e ir para bem longe… Viajar, esquecer, mudar, viver sem preocupações. Até mesmo pessoas como eu, cuja maior ganância é uma rede numa varanda colonial vendo o sol encontrar o mar no fim da tarde, dependem da elasticidade dessa corda. Afinal, sempre tem um porém…Seria um sonho inviável perceber o quanto podemos ser felizes com poucas coisas, investir numa qualidade de vida maior que uma qualidade salarial… A vida te pede mais, sempre mais e mais…. Hoje a realidade é de um nó apertadíssimo. Quem tem um trabalho está se destruindo mil vezes mais rápido que há dez anos atrás pois se trabalha hoje pelos milhões que foram demitidos e estão do outro lado da corda, aquela do poço…. Não se come, não se dorme, não se vive com uma ameaça dessas sobre a cabeça. E a cada dia, a corda diminui, e o nó aperta mais.
             Há ainda os laços familiares por que não? Sim, são os melhores, é onde a trama da corda é mais forte...Mas é onde alguns formadores de opinião se concentram, munidos de uma faca, tentando cortar uma trama já puída por conceitos,discussões sobre direitos, gêneros e desamor...Mas ainda é a trama mais forte, a que de fato, prende-nos, não permite que batamos nossas asas de cera rumo a noção adolescente de liberdade. Não somos reféns amarrados uns aos outros… Somos ata dos por nós de amor. Claro, que confiar em quem amamos nem sempre é a garantia de lealdade ou preventivo de decepção, mas é sem sombra de dúvida a opção mais plausível sob pressão …
              Então, qual a corda que te prende? Qual a corda que te resgata? O que mais te aperta? O que mais te sufoca? O laço? O nó? Estamos do mesmo lado da corda? Ou somos apenas o ioiô que nela passeia? O fato é que devemos acordar! Assim como não há liberdade sem luta, não há luta que signifique algo se morrermos em meio a batalha. Não abro mão do meu sonho, mas sei o que me custaria realizá-lo…Viver sem os nós, e sem os laços tão necessários… E cortar a corda ao invés de desatar nó a nó. E eu tento sempre acreditar que…. Se só podemos ir para cima…E temos a corda…. Não posso cortá-la pois pode ter mais alguém precisando subir… Precisando de algo para se apegar, para se salvar, para sair dali....Então seja você … A corda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário