Eu sei, mesmo em meio ao total silêncio e cobertos pela
cortina de fumaça ainda sentimos ali.... Roubando-nos paz e quietude da
alma...E todas as cores da nossa aquarela parecem se misturar, tornando-se um
borrão sem sentido.... Pagamos caro pelos sorrisos que damos, e cada um
emoldurando um dia diferente, com uma mescla de resiliência e gratidão, mas as
coisas não ficam, nunca cem por cento... Sempre, há uma pendência ou outra, sempre
há uma cobrança, uma culpa, uma pedra, uma cruz...Sempre há esse um por cento,
que por mais fé, coragem e vontade não derrubamos. Posso estar errado em supor,
errado em generalizar, claro, podem haver aqueles cem por cento felizes, livres
do pecado, de bem com suas escolhas, em paz com seus passos e felizes com seus
caminhos.... De fato, pode ser... Mas sei que existem pessoas que se identificariam
com o que descrevo.... Ao contrário do que pensamos logo ao início dessa
conclusão não nos falta nada.... Não é falta de amor ou de fé em Deus, é
exatamente o oposto, é êxtase... Estamos cheios de nós mesmos... A grande
maioria vive de trabalhar naquilo que nunca sonhou, ganha o suficiente para
comprar seu próprio silêncio... Propina para seu status... Mas é quando se olha no espelho.... Quando se
deita no travesseiro.... Quando a ressaca acaba, quando a tinta cai.... Que nos
vemos ali, insatisfeitos.
Somos, por
natureza, insaciáveis de tudo, seja do espirito santo, seja de bens matérias,
seja do amor do outro.... Por que sempre achamos que damos muito mais do que
recebemos, que somos vítimas da injustiça e achamos que a resolução mais
simples é empacotamos tudo para viagem com rótulo de azar.... Não há azar,
nunca houve. Somos nós.... Em nossa essência mais verdadeira. Falhos e fracos,
e carentes como sempre. Daí tudo ao redor nos sufoca e escraviza... A violência,
a injustiça, a corrupção, a desumanidade, o desamor... Mas somos os elos dessa
corrente... Só não queremos ver. A humanidade tem evoluído em seu egoísmo, ou
melhor dizendo, egocentrismo... Não há barreiras ou guerras físicas maiores do
que as que estamos construindo com nossas mentes, estamos nos afastando,
ampliando nossos limites para além das fronteiras onde começam o direito dos
outros...
O amor, esse
anda triste e em depressão, foi julgado e condenado... Substituído pelo sexo casual e pela infinita
guerra de gêneros que outrora era impensável. É outono para a paixão e o
veraneio do amor está em baixa temporada. Seria tão mais simples se
aceitássemos nossas imperfeições... Seria
tão mais simples se pudéssemos ver, que não há lado certo da corda num cabo de
guerra entre o infeliz e o oportunista. Seria melhor se fossemos nós, falhos,
fracos e pedindo perdão pelo que somos, de joelhos... Não julgando uns aos outros sem se dar o
trabalho de olhar para o espelho, não culpando os outros pelas suas escolhas,
não culpando as pedras pelo caminho que você escolheu, não sorrindo infeliz,
não cultuando o próprio corpo como se realmente desse valor a ele e, se
contradizendo com frases de amor ao pai.... Não. Porque no fundo, sabemos...
No fundo, no fundo, no fim do dia, da noite,
da semana, do mês do ano... Da vida.... Não há cerveja, não há cigarro, não há
maquiagem, não há drogas, não há mascaras de felicidade.... Vai tudo muito além
de um status na rede social. No fim somos quem somos, e é isso que incomoda...
O barulho ensurdecedor da silenciosa verdade. Daí os corpos no sótão que todos
temos, os fantasmas que nos assombram, a culpa que nos tira o sono, o
inconformismo com o tempo de Deus para tudo, sobressaem ao sorriso latente dizendo:
“sextou” ou às viagens do corpo que não alimentam a alma. Moramos no fundo falso
da gaveta, abaixo da superfície do visível, submersos ao mundo perfeito e a
cuidados extremos para nos protegermos de tudo, menos de nós mesmos. Fomos
pintados à mão numa tela perfeita, e como retribuição.... Erguemos estátuas à
nós mesmos. Criados pelo amor, e para amar.... Chegamos ao ponto de evitarmos
uns aos outros, por medo de nossas lástimas serem incompatíveis, ou pela
desculpa absurda de pouparmos o outro de nós mesmos em nosso estado pleno.
Desta forma, por mais momentos felizes (que sim, existem, embora raros) que
possamos colecionar, poderemos adoecer pela falta de paz.... De aceitação do
que somos, de amor próprio.... Pois é bíblico, amar ao próximo como a ti
mesmo.... E se não conseguimos nem mesmo nos amar.... Como amaremos alguém? Pratiquemos
a confiança e aceitação. Quem sabe assim, essa sensação de que nunca ficamos
cem por cento diminua? E que Deus siga nos abençoando!
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