As bases de qualquer construção são de suma importância para
que não sucumba ao tempo, ao peso, ao descaso... E geralmente a nossa base,
como pontes é a família... Solo árido ou fértil que sempre nos fortalece, nos
mantem ali... imponentes, quase fortes, capazes de suportar mais um dia de sol,
mais uma chuva, mais uma enchente, mais uma carga. Mais uma batida...Sempre são
por nós, o fundamento de tudo...seja gratidão, ou ingratidão, esses sentimentos
ninguém nos ensina, mas é da família que se fala disso pela primeira vez.
Quando temos filhos, é curioso ver como esse termo ponte se faz mais plausível...queremos
sempre que façam seus caminhos, mas que jamais cometam nossos erros...Sem
aceitarmos sequer que, mesmo não cometendo os nossos, cometerão os deles... E
então eles se tornam, não somente a fundação que parte do fundo dos rios, ou do
solo pedregoso... Mas também se tornam a água que tentamos proteger... Que não
queremos que as botas ou rodas de ninguém sequer encoste neles...E a nossa
força se renova, parecemos então, de fato incapazes de cair... Despencar,
aguentamos vagões e vagões de sentimentos passando por nossas vidas, para que
tudo siga inalteradamente coeso para eles...
Mas quando surgem as primeiras trincas percebemos... Que não
somos fortes. Não tanto quanto achávamos... Não tanto quanto parecíamos ser,
para os outros, para eles...Somos frágeis, quebradiços...Carentes de cuidados
como qualquer um...Afinal... O que fizemos por nós mesmos? E os sentimentos que
por nós passaram? Se foram! E só aí reparamos que o sentido de ser ponte, pode
estar em levarmos felicidade de um lado a outro, mas o que fica para nós é
somente a lembrança... E a sensação enganosa de termos feito tudo de melhor que
era possível...De termos suportado todo o peso, das botas, dos pneus, da
correnteza, das tempestades...E então nos questionamos se somos mesmo pontes...
Ou seríamos represas? Segurando tanta coisa... Suportando, nos vestindo de
fortes... E as trincas deixam passar...Do trabalho para casa, e de casa para o
trabalho... E de pouco a pouco as partes se inundam...Se misturam...E não temos
como fazer os reparos...Não temos tempo ou forças...E pensamentos sombrios nos
sondam... Questionamentos bizarros, sobre valores, sobre o que somos ou
realmente representamos para quem levamos felicidades, ou sorrisos...Ou até
mesmo, se realmente levamos isso para as pessoas... Nos preocupamos tanto em
conter os vazamentos, em omitir nossas rachaduras para que as águas mansas não se misturassem
com as revoltas, que no fim... Nos despedaçamos, e as águas... Seguem o fluxo,
com ou sem correntezas... Com ou sem inundações, com ou sem enchentes.
Então, quando só restarem nossos escombros... Como pontes,
ou como represas no fundo das águas ou em meio ao solo, a assustadora ideia de
que protegemos demais o que poderia se proteger sozinho, que levamos amores e
sorrisos demais, e absolvemos de menos...Talvez o rio devesse de fato seguir o
fluxo, os pés deveriam se molhar, o sol deveria refletir em suas águas... Daí,
ficaria a certeza... Os carros encontrarão outro caminho... As pessoas
atravessarão o rio, e nos daremos conta de que nada pode ficar entre o destino
e o seu cumprimento...A vida sempre encontra um caminho, um jeito. Talvez,
devêssemos tentar ao menos uma vez, sermos quem passa pela ponte ou sermos
simplesmente, o rio... Talvez...
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